23/02/2007

Jardins de inferno

espaços onde custa respirar


"Poda" de plátanos em Lagoa, freguesia de Aboim, concelho de Fafe (fotos de Alexandre Leite)
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Em 1875 (sim, leram bem: 1875!), José Duarte de Oliveira Júnior, a propósito do que apelidou "hecatombe de 23 de Fevereiro", escrevia:
«Supomos que não haverá ninguém que, por mero divertimento ou para matar o tédio, tome da pena como arma ofensiva e venha para a imprensa agredir um indivíduo ou ofender uma corporação. Quem tal fizesse teria dado provas da baixeza do seu carácter ou da perversidade do seu talento.
Esta é a nossa maneira de pensar, esta a nossa maneira de proceder. Censurar não é atacar violentamente e quando censuramos é com maior pesar e por vezes com a máxima repugnância, porque a nossa aspiração constante seria elogiar sem sair dos limites do justo.

Há todavia certos factos perante os quais é quase uma vergonha o silêncio. O que ultimamente tem sucedido com a jardinagem portuense* está clamando não diremos vingança, mas um protesto selene. É o que fazemos: protestamos. Julgamos isso um dever.
A jardinagem de uma cidade é um ramo importante do serviço público e deve merecer todo o cuidado da câmaras municipais. O vereador encarregado deste pelouro não deve ignorar tão completamente os rudimentos de horticultura que deixe praticar as maiores arbritariedades ao pessoal que lhes obedece. Quando o município não tem empregados peritos e suficientemente ilustrados, é necessário que o director do pelouro tenha o senso comum suficiente para consultar as pessoas entendidas e deixar-se guiar pelos seus conselhos. p. 97(...)
Veja-se quanto não pode a ignorância e os entendimentos de verdadeiros vândalos! Muito de propósito, para que os vindouros possam avaliar os actos de selvajaria que se praticavam nos fins do século XIX na ditosa pátria minha amada, mandamos fazer estes desenhos, que falam mais ao vivo do que qualquer minuciosa descrição. Em face deste vandalismo poderíamos realmente ficar silenciosos? p. 99
(...)»
José Duarte de Oliveira Júnior, “Crónica Hortícola-agrícola”, Jornal de Horticultura-Prática, Vol. VI, 1875 (ler versão on line > imagens 55 e 56 )

NB *Substituir portuense pelo gentílico correspondente à localidade onde continuam a ser praticados impunemente os actos de selvajaria que este blogue, e este, e este , e este (entre outros) têm vindo a denunciar.

5 comentários :

Ponto Verde disse...

Até dói!

Este país que tão maltrata as àsvores e as florestas, pela-se durante o Verão pelos fogos florestais, durante todo o ano há uma hecatombe semelhante por todo o lado e a reboque de todos os interesses e passa completamente despercabida.

Veja o que se passa em www.a-sul.blogspot.com

Anónimo disse...

Realmente.... enfim.

Mas porque esses blogs não se juntam num só? Seria bem mais interessante e principalmente uniria toda a informação num único local. =)

Ana disse...

Realmente...Fico sem palvras ao olhar para estas imagens.
Um abraço:)

shark disse...

Já o Prof.º Fabião dizia:

" a isto chama-se podas camarárias"

Parabéns gostei do Blog!

Anónimo disse...

Poda desastrosa a um Jacarandá mimosifolia na Assembleia da República
in: http://cheirar.blogspot.com/