Botânica das Lágrimas
Duas horas e quarenta e cinco minutos é a duração da visita botânica guiada pelo Professor Brotero a uma turma do sexto ano de escolaridade, a que se juntou um puto de sete anos e meio, quas'oito. O professor é personagem de ficção, mas nem tanto assim: pediu o nome emprestado ao mais célebre botânico português, e a sua exuberência de contador de histórias veio inteirinha de Fernando Catarino, antigo director do Jardim Botânico do Museu de História Natural da Universidade de Lisboa. Pois é essa a quilométrica designação oficial do jardim encantado que, durante a acção do romance, se transfigura no Jardim Botânico da Sétima Colina.
O miúdo de sete anos e meio, quas'oito é o líder da facção que, na escola, opõe resistência às humilhantes praxes infligidas aos alunos mais novos. O cabecilha dos praxantes e os seus lugares-tenentes também integram o grupo visitante. Tudo a postos, assim, para trepidantes episódios de guerrilha em que as árvores do jardim, tomando o partido dos mais fracos, jogam papel decisivo. Mostrar as plantas em acção, com as suas virtudes e peculiaridades, é um modo cativante de as dar a conhecer.
Este romance, com uma escrita cheia de ritmo e graça, é pois uma combinação de fábula com livro-guia - sem dúvida o mais original que já foi publicado sobre qualquer jardim botânico. Possui mesmo um índice final com os nomes científicos e vernáculos das plantas que intervêm na história.
Apenas um reparo à capa do livro, que é de um comercialismo infeliz. A frase promocional Bullying - o romance da realidade revela-se inteiramente desajustada ao conteúdo. É indiscutível que o bullying (nome para o assédio e perseguição de que são vítimas muitas crianças nas escolas) é um dos temas centrais do livro. Mas Botânica das Lágrimas é tão realista como O Principezinho, Alice no País das Maravilhas ou Sonho de uma Noite de Verão, obras que estabeleceram uma linhagem de fantasia em que o romance de Pedro Foyos claramente se filia.
4 comentários :
Fiquei curiosa.
Vou ler!
Luz
Uso muitas vezes a expressão: Não se julga um livro pela capa. Mas confesso que neste caso, não fosse este post, jamais olharia duas vezes para este livro. Que capa!
Vou ler, mas não sem antes o forrar.
As capas dos livros em Portugal são um fenómeno curioso. Agora estão em voga as capas em tom pastel (rosa, azul marinho, creme), com uma ilustração mais ou menos onírica, título a letras douradas, e uma profusão de citações e frases que explicam ao leitor a urgência de comprar o livro. Entrar numa livraria, hoje, parece uma visita à rua dos restaurantes da antiga Feira Popular de Lisboa: todos aos gritos a tentar chamar fregueses. Mas deve funcionar, senão essas capas exclamativas já teriam desaparecido. Quer-me até parecer que os gerentes dos stocks das livrarias só aceitam pôr em destaque capas suficientemente berrantes.
É por isso que tendo a desculpar as más capas dos bons livros. Só se vestem de palhaços para não passarem despercebidos.
Acabei de comprar a 3ª edição. Capa diferente, mais bonita e apelativa.
Ana Paula Oliveira
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