02/10/2009

Economia na Justiça


Eupatorium cannabinum L. - Land's End, Cornwall

Se a Justiça (com vénia e maiúscula) não é justa, que ao menos seja barata. Passaria a ser justiça (sem vénia e com minúscula inicial), mais no espírito desse danoso acordo ortográfico que tantas palavras quer descapitalizar, e menos onerosa para os chamados contribuintes, fartos de sustentar luxos e esbanjamentos. Com o fito de alcançarmos o desiderato expresso no título - inversão do slogan eleitoral de um conhecido partido político -, apresentamos uma primeira e necessariamente modesta proposta de (in)acção.

O epíteto desta planta, cannabinum, remete claramente para a Cannabis sativa, a famosa maconha, cujo cultivo e posse são penalizados judicialmente em todo o mundo, excepto na Holanda. A nossa proposta é que ninguém seja punido por possuir no seu jardim ou terreno baldio exemplares de Eupatorium cannabinum, planta de porte e folhagem semelhantes aos da maconha mas desprovida de qualidades psicotrópicas ou euforizantes. Mas então, pergunta o leitor em tom de espanto, se a planta é inofensiva e nada tem de inebriante, como se explica que ela seja perseguida pelas Forças da Ordem? Ora leitor, não seja ingénuo. Quantas toneladas de farinha, leite em pó ou farofa não foram já retidas nas alfândegas dos aeroportos, para grande vexame dos igualmente retidos passageiros? Não fosse o agente Bobi, cão-polícia de faro especializado, ser chamado para desfazer o equívoco, e sabe-se lá que tratos a Justiça não daria a tais infelizes. De igual modo, nada impede uma brigada antinarcóticos insuficientemente versada em morfologia vegetal de confundir uma Eupatorium cannabinum com uma Cannabis sativa. Até o imortal Lineu as achou parecidas. O que defendemos, em suma, é que ninguém fique sujeito a prisão preventiva ou a outras medidas de coacção enquanto aguarda que um especialista em botânica analise o material apreendido.

Se a adopção desta medida se traduzir, como é nosso desejo, em não despicienda poupança no orçamento da Justiça (ou da justiça), outras sugestões de mérito e alcance comparáveis serão a seu tempo aqui propaladas. Por agora, atentemos na planta em si, ressalvando que o que se segue tanto pode ser útil a polícias como a paisanos.

O género Eupatorium inclui hoje cerca de 40 espécies espalhadas pela Ásia, América do Norte e Europa, mas já foi muito mais populoso. Por exemplo, os géneros Ageratina, com mais de 250 espécies, e Bartlettina, com 37 espécies, resultaram de cisões do género Eupatorium. Todas estas plantas são asteráceas atípicas: as suas inflorescências, embora formadas por inúmeros florículos, não apresentam o aspecto de «malmequeres». São, porém, muito ricas em néctar e funcionam como pólo de atracção para abelhas e borboletas.

Em português a Eupatorium cannabium recebe o nome de trevo-cervino; em inglês chama-se hemp-agrimony. É uma herbácea perene, com altura máxima de um metro e meio, que floresce entre Julho e Setembro e mora em locais húmidos por toda a Europa. No norte de Portugal é presença assídua nas margens dos rios: já a avistámos no Tâmega, no Ôlo e no Corgo.

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