Fritilária portuguesa
Fritillaria lusitanica Wikstr.
As fritilárias têm sido motivo de discussão interessante entre taxonomistas que, enquanto tentam entender-se sobre o que é uma liliácea, se questionam se as espécies de Fritillaria europeias e asiáticas devem estar em género diferente do das americanas - e talvez em breve tenhamos de adoptar para estas a etiqueta Amblirion Raf.. Apesar das revisões recentes, que se baseiam em traços moleculares e não apenas na morfologia exterior, a família Liliaceae é ainda demasiado heterogénea. Porém, é possível destacar características comuns, algumas salutares como gostarem de um período de dormência (leia-se sesta prolongada enquanto o frio aperta) em que a herbácea vivaz descansa reduzida às componentes subterrâneas (bolbos, rizomas ou raízes tuberosas). Além disso, as flores são solitárias, ou dispostas em cachos pequenos, com 6 tépalas, 6 estames, 3 carpelos unidos e 1 estilete com um estigma eventualmente trífido.
Em Portugal há cerca de 80 espécies nativas de liliáceas (algumas terão já mudado de família) como a Fritillaria lusitanica Wikstr. e a Tulipa sylvestris L., mas a maioria é do género Allium, predominância a que não é alheio o tipo de solo seco e arenoso com que nos vamos desertificando. Várias delas são de distribuição restrita no nosso país e podem mesmo estar em perigo de extinção, nomeadamente a Bellevalia hackelii Freyn (do Algarve), o Asphodelus bento-rainhae P. Silva (da serra da Gardunha), o Lilium martagon L. (da Mata da Margaraça), o Hyacinthoides vicentina (Hoffmanns. & Link) Rothm. (do interior da região do Sado) e o Allium pruinatum Link ex Sprengel (do centro e sul).
A Fritillaria lusitanica, da Península Ibérica, habita matos e bosques, preferindo zonas altas com invernos secos e primaveras húmidas, solo rochoso e bem drenado, muito sol e a vizinhança de carvalhos. Nada caprichosa, portanto. As folhas são verde-claro, longas e lanceoladas, e a planta pode atingir os 50cm de altura. As flores, do início da Primavera (o fotógrafo resmungou bastante com o vento), que se inclinam como se cabeceassem de sono, nascem no topo de um talo delgado que os frutos empertigados ocupam mais tarde. Medem cerca de 3 cm de comprimento, contêm nectários brilhantes na base das tépalas, e exibem grande variedade de cores e enfeites em resposta aos distintos polinizadores (abelhas, moscardos, moscas ou pássaros); as tépalas são, em geral, castanhas/avermelhadas com franjas alternadas mais claras no exterior e de interior amarelo. Os bolbos distinguem-se de outras liliáceas por se cobrirem de bolbinhos menores, uns grãos-de-arroz importantes em medicina chinesa (o famoso bei mu).
4 comentários :
Pela primeira vez vou tentar cultivar essa espécie a partir de sementes. Penso que vai ser um grande desafio, pois nunca semeei Fritillaria.
Fico muito lisongeada por terem posto um link ao Bolbos-em-Flor:)
Cris
Alguém me sabe dizer porque se chama lusitanica? O primeiro tipo foi encontrado em terras lusas, ou algo assim?
Aproveito para felicitar os autores deste blog com qual tanto tenho aprendido nas minhas pesquisas às plantas portuguesas.
Obrigada
O epíteto específico lusitanica significa que ou a espécie é um endemismo português (como no caso da Epipactis lusitanica) ou foi descrita pela primeira vez a partir de um exemplar português (como a Pinguicula lusitanica ou esta Fritillaria).
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