05/10/2009

Encenação de um rio



Choupos e salgueiros nas margens do rio Cértima, no concelho de Águeda

Ao mostrar estas bateiras no seu embarcadouro, no rio Cértima, o fotógrafo torna-se cúmplice de uma encenação. Encenação de uma vida passada, ao jeito dos museus etnográficos, mas com maior capacidade ilusória: como as bateiras permanecem no local onde estariam se ainda fossem usadas, fazem crer que a forma de vida a elas associada ainda persiste. Mas não: já ninguém faz uso delas, e só não se afundam porque o rio leva pouca água. Noutros tempos, e tal como os seus primos moliceiros da ria de Aveiro, elas serviam para recolher moliço, nome genérico dado às plantas aquáticas empregues como fertilizante na agricultura. Vieram os agroquímicos, veio o abandono das terras, e o moliço deixou de ter préstimo. A Pateira de Fermentelos, lagoa natural de 4 a 5 km^2 alimentada pelo rio Cértima e por vários outros cursos de água, chegou a estar em risco de se finar, sufocada pela vegetação espontânea que entretanto fora reforçada por um temível arrivista, o jacinto-de-água (Eichhornia crassipes). A Câmara de Águeda interveio e salvou a pateira, mas não debelou a ameaça. A faina dos moliceiros, que era parte da economia local e limpava a pateira sem gasto público, extinguiu-se de vez. Para as entidades públicas ficou a dispendiosa obrigação de não dar tréguas às plantas invasoras.

7 comentários :

th disse...

Explicou-me então que aquelas bolinhas é que davam o cheiro de machimba à praceta. Segundo ele, já perderam a conta às cartas que mandaram para a Câmara a pedir que substituíssem as árvores porque ninguém aguentava com o cheiro. Disse-nos ele que a Câmara foi lá uma vez e que disseram que, quando as árvores foram escolhidas, lhes disseram que as árvores eram macho e portanto não sujavam e davam bastante sombra.

Mas que falta de sorte heinnnnn ... pelos vistos as árvores são todas fêmeas.

O senhor não me soube dizer o nome das ditas. Não conseguia lembrar-se. Se alguém souber .....

Mas estão aí as fotos para verem. É só clicar nelas que aumentam.

( claro que as fotos não aparecem...), mas no seguinte comentário remeto-vos para o grupo onde está esta dúvida e aí sim podem ver as tais fotos. Será que podem ajudar?

th disse...

é este o grupo:
http://netmares.multiply.com/journal/item/1821/UM_CHEIRINHO_ESPECIAL

Paulo Araújo disse...

O endereço que indica tem acesso restrito, e por isso não posso ver as fotos. Em qualquer caso, tratam-se certamente de Ginkgos (o nome científico completo é Ginkgo biloba). Pode ver aqui fotos das folhas e dos frutos. São das melhores árvores que se podem ter numa cidade, porque aguentam a poluição e dão muito boa sombra. O problema com os frutos malcheirosos resolve-se se a Câmara varrer o local regularmente na época em que eles caem. Afinal, o problema só dura um mês em cada ano - e o lixo que as pessoas produzem, e que é muito mais poluente e nocivo, tem de ser recolhido durante o ano inteiro.

th disse...

oBRIGADA, JÁ TRANSMITI AO GRUPO, th

bettips disse...

É um sítio de recantos encantadores malgré tout - também estive "aí" há pouco tempo - com o estúpido olhar para os belos jacintos de água, apesar da Jardineira Aprendiz me ter explicado ...
Penso que muitos dos barcos ainda são utilizados, para pescar, pelo menos vi pessoas a utilizá-los. Mas sargaceiros e moliceiros são engolidos pelo progresso, quando o ciclo natural era tão mais importante para o equilíbrio da Terra!
Abç

Paulo Araújo disse...

Olá Bettips.

Realmente a pateira é um sítio encantador, apesar dos jacintos-de-água e de todos os outros estragos que em Portugal são inevitáveis. Daqui a uns dias também vamos aqui mostrar os jacintos malvados, que são indiscutivelmente bonitos.

Por certo que há ainda quem ande de barco na pateira - mas não nesses da foto, que estão mais do que aposentados e não aguentavam com ninguém em cima.

Abraço

adsensum disse...

Lindas paisagens. Acho que já estive aí há uns anos numa festa de casamento de uns amigos.