12/10/2009

Enleia-me nos teus cabelos


Cuscuta campestris Yunck.

Ao contrário de outras parasitas, que, apesar de causarem estranheza a olhares mais atentos, ainda se conseguem disfarçar de plantas convencionais, a Cuscuta tem uma aparência decididamente extra-terrestre. A sua vocação é protagonizar filmes catastrofistas em que alienígenas malignos invadem a Terra para saquear e destruir. Uma vez definido o alvo, a Cuscuta lança os seus tentáculos sobre as vítimas, enredando-se nelas como se quisesse estrangulá-las, ao mesmo tempo que as penetra com orgãos sugadores (chamados haustórios) para lhes chupar a seiva. Não produz clorofila, e por isso o seu sustento depende inteiramente da planta hospedeira; e, como cedo se livra das raízes, por elas de pouco lhe servirem, nem sequer vive agarrada à terra. Leva uma existência aérea, como peruca mal-amanhada que o bom senso e o bom gosto são impotentes para descartar.

Apesar de amaldiçoada pelos agricultores, a Cuscuta (género cosmopolita, com mais de 150 espécies, presente nos cinco continentes) já gozou de algum prestígio medicinal: a C. epythimum, uma das espécies europeias mais comuns, era usada, não se sabe com que eficácia, para combater maleitas da vesícula, baço e fígado, e em especial para tratar a icterícia. E em Portugal, há que reconhecê-lo, a Cuscuta não constitui problema: é uma planta pouco comum e, tendo um ciclo de vida anual, não chega a incomodar seriamente as suas hospedeiras. Por contraste, há espécies de climas quentes que, crescendo continuamente durante anos a fio, conseguem revestir as copas das árvores com amplas cabeleiras rosadas ou cor de palha.

É algo problemático distinguir entre si as três ou quatro espécies de Cuscuta espontâneas em Portugal. A planta da foto não é certamente a C. epythimum, que tem galhos avermelhados e flores cor-de-rosa. Por exclusão de partes, e atendendo às melenas alaranjadas e às flores brancas com um toque esverdeado, julgamos tratar-se da C. campestris. Encontrámo-la nas cercanias da Pateira de Fermentelos, parasitando duas espécies de asteráceas: Bidens tripartita e Xanthium strumarium.

4 comentários :

Luz disse...

Mai uma coisa que aprendi hoje! Uma planta que nem sonhava que existia...

Unknown disse...

A cuscuta, tal como outras parasitas, é uma planta que tem tanto de curioso como de bizarro,pois que sobrevive, mesmo sem ter clorofila, o que não deixa de ser espantoso.
Entre Espinho e a Granja, junto ao passadiço, pode ser observada, parasitando a Artemisia campestris ssp.maritima.
Paulo Araújo, será possível, descobrir em Portugal, vestígios de Viscum album? Desde já , agradeço qualquer informação.MD

Paulo Araújo disse...

Dalila:

Já tinha visto essa cuscuta entre Espinho e a Granja, mas nunca calhou fotografá-la (normalmente os passeios que faço na marginal de Gaia são entre Miramar e a Granja). Gostava de a olhar outra vez de perto para tentar descobrir de que espécie é.

Nunca vi o Viscum album em Portugal - aliás, nunca o vi em sítio nenhum. Apesar de estar referenciado como existente no nosso país, deve ser mesmo muito raro. A Flora Digital de Portugal nem sequer o menciona.

Anónimo disse...

A Cuscuta epithymum (rosada) encontrei aqui em Sagres. Em 2018 vi-a pela primeira vez enrolada em Teucrium vicentinum. Chamou-me a atenção pela alteração que havia nas flores do Teucrium. Só com olhar mais atento e em novos grupos de plantas pude verificar os "cabelos" que a enrolavam, chegando à identificação da espécie Cuscuta. Este ano voltei a encontrá-la mas enrolada em camomilas e plantagos.
Carla (Walkin´Sagres)