25/04/2011

Amarelo depois do fogo



Halimium ocymoides (Lam.) Willk.

Em Alfena, do lado de lá de uma novíssima auto-estrada-que-afinal-tem-custos, há uma lixeira a que alguns adeptos do eufemismo poderão chamar aterro ou depósito de inertes. Não sendo de desdenhar contributos privados, parece ser sobretudo à junta de freguesia que cabe manter e acrescentar o acervo de detritos: materiais de construção, entulhos, electrodomésticos, colchões, mobiliário diverso. A lixeira coroa uma encosta que desce para a ribeira de Tabãos, e está rodeada por muitos hectares de eucaliptais. No Verão passado ardeu tudo o que não tinha ardido em anos anteriores. O solo enegrecido e ralo, com alguma carqueja a despontar, estende-se como um tapete infernal até à mata de eucaliptos carbonizados.

Para facilitar o acesso à lixeira e aos montes circundantes de camiões e de veículos todo-o-terreno, existe um viaduto que sobrevoa a auto-estrada, e que está ligado ao centro da freguesia por uma estrada moderadamente esburacada. Não sendo passeio que se recomende aos amantes de paisagens e da vida ao ar livre, afinal o que viemos aqui fazer? Dá-se o caso de o regime quase anual de incêndios que sobreveio à eucaliptização não ter conseguido erradicar por completo a riqueza botânica deste lugar. É aqui que a população mais nortenha do pinheiro-baboso oscila no limiar da extinção. Em ano de censo nacional, é imperioso contarmos quantos efectivos sobrevivem.

Observar as outras plantas rentabiliza a excursão e é um bálsamo para o olhar. As que mais se esforçam por mitigar a fealdade do cenário são as cistáceas de flores amarelas: tuberárias e halímios inauguram os seus enfeites em Abril e prometem mantê-los por três ou quatro meses.

Conhecido como mato-branco ou sargaço-branco, o Halimium ocymoides é um pequeno arbusto de folhas esbranquiçadas, em geral com não mais que 30 ou 40 cm de altura (mas podendo chegar a 1 m), presente em terrenos silícicos de norte a sul do país na companhia de urzes e de tomilhos. Globalmente, distribui-se por Marrocos e pela Península Ibérica, onde só não alcança o extremo norte. Distingue-se pelas longas hastes florais, muito ramificadas, e pela mancha castanha ou púrpura na base das pétalas. O pretexto para o epíteto ocymoides vem da semelhança das suas folhas com as do manjericão (Ocimum basilicum).

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