14/04/2011

Lá em cima está o Solidago

Solidago virgaurea L.
Há plantas que levam tempo a ser notadas, mas depois de os olhos se abrirem para elas nunca mais deixamos de as ver. Uma delas é a vara-de-ouro (Solidago virgaurea), que deve o relativo anonimato à semelhança das suas flores com as de diversas outras plantas compostas, entre elas a muito comum énula-peganhosa (Dittrichia viscosa ou Inula viscosa) e várias espécies do género Senecio. A genuína vara-de-ouro, que cresce até um metro de altura e floresce de Junho a Setembro, é uma planta mais elegante, com folhas lanceoladas que diminuem de tamanho à medida que ascendem no caule, e inflorescências de um amarelo intenso dispostas em espiga. Em Portugal ela não se faz desencontrada, mas parece preferir os ares da montanha à mansidão das planícies. Na serra do Gerês, por exemplo, é preciso subir um pedaço — e na altura do ano em mais que custa fazê-lo — para depararmos com um bom número destas plantas.

E porque há-de o esbaforido pseudo-alpinista aventurar-se por esses descaminhos, com risco de queda e lesão, só para encontrar uma planta? Bom, não é só por uma planta, há muitos mais motivos botânicos de interesse, já para não falar da paisagem. E, em caso de acidente, lá está a vara-de-ouro, qual varinha mágica, pronta para nos restaurar a saúde. A sua reputação terapêutica, que já vem do tempo dos árabes, é das mais solidamente estabelecidas do reino vegetal: as suas folhas aplicam-se externamente para curar feridas, e internamente, sob a forma de infusões, para lubrificar a bexiga e dissolver cálculos nos rins.

O herbanário amador aproveitará pois o passeio para fazer basta colheita de varas, que depois organizará em frasquinhos devidamente etiquetados. Na prateleira lá de casa à espera dos achaques, ficarão eles com o ar desafiante de forcado que aguarde a investida do touro. Nós, porém, porque preferimos as plantas vivas na natureza, abdicamos de montar farmácia caseira e nem sequer um rebento arrancamos.

1 comentário :

Luz disse...

Obrigado pela explicação... Quem poderia imaginar os atributos desta plantinha? Ainda bem que nos vão explicando as coisas, pois os"comuns mortais" como eu, vamos passando por cá para refrescar os olhos, a mente e a alma, que de biologia não percebo nada... Mas adoro passar por aqui!
Obrigado por todas as partilhas, o descanso, e as aprendizagens!