Estrela da serra
Saxifraga stellaris L.
Quando o Joaquim nos mostrou esta planta, agarrada a uma rocha ressumante já perto do cume da Serra da Estrela, saudámo-la como quem reencontra uma velha conhecida. Com que então por aqui? Já não nos víamos desde a última ida a Pitões. Ainda a florir? Pois, a 1900 metros de altitude há sempre atrasos. Então passe muito bem.E afinal estávamos enganados. Comportámo-nos como alguém que encontra um conhecido na rua e, depois de meter conversa, conclui que afinal não conhece tal pessoa e foi iludido por uma semelhança fortuita. Como as plantas não têm a capacidade de nos embaraçar, em vez de um pedido de desculpas e de uma despedida envergonhada, optámos por regressar ao local uma semana mais tarde.
Em resumo, a planta que vimos na Serra da Estrela, apesar da vincada parecença com a Saxifraga lepismigena, pertence a outra espécie, de seu nome Saxifraga stellaris. E a diferença, ao contrário do que por vezes sucede em taxonomia botânica, não se reduz ao nome ou a pormenores morfológicos só visíveis à lupa. Ora vejamos. A S. stellaris tem as folhas glabras, formando uma roseta compacta e bem definida; a S. lepismigena tem folhas com pêlos claramente visíveis, agrupadas de forma solta. E há as flores: na S. stellaris as cinco pétalas são mais ou menos iguais, mas na S. lepismigena duas das pétalas, além de terem forma diferente, não são manchadas de amarelo como as outras três.
No que as duas espécies se equiparam é no valor conservacionista. A Saxifraga lepismigena é um endemismo do noroeste peninsular com exigências ecológicas peculiares, e como tal uma preciosidade a proteger. A Saxifraga stellaris, que prefere lugares montanhosos onde a neve se demora boa parte do ano, tem uma distribuição muito mais vasta (Europa incluindo Grã-Bretanha e Islândia, mas também Gronelândia e América do Norte), mas em Portugal só existe na Serra da Estrela, acima dos 1700 m de altitude.
6 comentários :
Excelente nome para a Saxifraga stellaris. A congénere também está dada para a serra da Estrela mas nuncca tive o prazer de a encontrar.
O recanto que mostras é-me algo famuliar. O Joaquim fez bem em mostrar-vos. É fabuloso, além de S. stellaris, ocorre o seu fiel companheiro Epillobium anagallidifolium e nos locais mais secos, em terracetes que orlam esse reocreno (nascente)surgem duas esbeltas Silenes, uma das quais a subespécie é exclusiva da Estrela, e uma composta, também ela restrita à nossa serra em Portugal.
As obras de requalificação da estrada realizadas em 2009, quase que destruiam parcialmente esse local. Foi sorte alguém estar atento.
Mas nessa reduzida área há mais para ver e ficar maravilhado.
Abraço,
Alexandre
Uuups... Tenho que confessar que não fotografei o Epilobium. É que já várias espécies do género me têm posto a cabeça em água na tentativa vã de as identificar, e agora contento-me em observá-las. Abrirei uma excepção para essa, mas agora só para o ano.
Quantos às silenes e às asteráceas, já têm dia marcado para virem aqui mostrar-se.
Só queria fazer-te uma pergunta indiscreta. Com algum esforço (e correndo um risco considerável) conseguimos encontrar e fotografar o Dryopteris oreades. Não vimos foi o Dryopteris expansa nem a Cryptogramma crispa, mas talvez não tenhamos olhado direito. Podes dizer-me se esse fetos existem perto da S. stellaris?
Obrigado e um abraço,
Paulo
Não tenho a certeza se o local onde viram a S. stellaris foi o mesmo que eu mostrei ao Joaquim. Se foi o mesmo, o Epilobium estaria presente.
Quanto as dois últimos fetos nesse local, não os conheço. O primeiro só o conheço de duas localidades, algo afastadas da estrada, em cascalheiras de blocos de média dimensão, o segundo é mais comum em áreas de cascalheiras com blocos de menores dimensões. Conheço-o de várias localidades mas não dessa vertente da serra.
C. crispa tem uma população com núcleos de pequena dimensão mas algo dispersa pelo maciço superior. D. expansa é muito mais raro.
Fica o convite, quando quiserem observar essas relíquias, basta dizerem.
Abraço,
Alexandre
Obrigado pela oferta, Alexandre. Iremos certamente tirar proveito dela.
Olá Paulo
Pois é..lá vou ter que rever outra vez a tua lição anterior acerca destas Saxifragas aquando do teu post s/ Crestuma e Pitões/Gerês.Da S.Estrela (C.d'Ametade) conheço fotografica/ uma mas certamente será a outra.E lá terei que colocar a 'lupa na foto' para ver se fotografei o que as distingue.
Uma longa e interminável aprendizagem.Ainda bem.
Abraço.
Carlos Silva
Olá, Carlos. No Covão d'Ametade deves ter visto a Saxifraga spathularis (e também por lá se vê, na berma da estrada, uma grande quatidade de Saxifraga fragosoi, que já não se confunde com estas).
Abraço, Paulo
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