23/06/2010

Couve de São João

Saxifraga spathularis Brot.
As a child, they could not keep me from wells
And old pumps with buckets and windlasses.
I loved the dark drop, the trapped sky, the smells
Of waterweed, fungus and dank moss.
(...)
Now, to pry into roots, to finger slime,

To stare, big-eyed Narcissus, into some spring
Is beneath all adult dignity. I rhyme
To see myself, to set the darkness echoing.

Seamus Heaney, Personal Helicon (Death of a Naturalist, 1966)

Num mundo que varie de modo contínuo — em sentido matemático ou outro mais impreciso que o leitor intua — não se espera que uma espécie evite torrões que entremeiem locais onde é espontânea, contradizendo de modo flagrante o que se poderia enunciar como o Teorema da Flor Intermédia. Mas essa é, como já contámos, a opção da urze-minhota-irlandesa, planta silvestre numa faixa que une o oeste de França ao norte de Espanha e noroeste de Portugal, e também na Irlanda mas não na Grã-Bretanha. O outro exemplo que desafia a lógica é a saxífraga da foto que, sendo natural do noroeste da Península Ibérica e da Irlanda — onde a conhecem como St Patrick's-cabbage —, não ocorre nos países intermédios. (A London pride é outra saxífraga, a S. × urbium D.A. Webb, híbrido entre a S. umbrosa L. e a S. spathularis.) Se confiássemos no testemunho botânico sobre o passado comum, diríamos que a Irlanda é gémea do continente mas a Grã-Bretanha tem ascendência diversa.

A saxífraga-de-folhas-em-colher, de margens translúcidas e recortadas em ziguezague, é uma herbácea perene, pequena mas vistosa na época de floração (de Maio a Agosto): as flores com simetria radiada são brancas e de pedúnculo frágil mas alto, com manchas amarelas e pintas cor-de-rosa nas pétalas. As folhas formam uma roseta basal mas algumas podem acompanhar até meia distância as flores na haste. Aprecia rochas (que lhe dão o nome genérico, do latim saxum, rocha, e frango, quebrar) húmidas de montanha, comuns nos prados do Gerês.

O género Saxifraga é o de mais vasta prole na família Saxifragaceae, contendo cerca de quatrocentas espécies, a maioria do hemisfério norte de clima temperado. Redescoberta pela genética recente, a família anda em mudanças taxonómicas, absorvendo outras famílias, como a Crassulaceae, para compensar a perda dos géneros Philadelphus, Deutzia, Hydrangea e Parnassia.

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