Linho rosa, linho branco
Primeiro, Darwin julgou tratar-se de uma variação sem significado. Apercebeu-se, porém, de que não havia versões intermédias e de que a presença das duas formas era demasiado regular para ser irrelevante. Conjecturou então que estas espécies estariam a caminho de se tornarem dióicas (isto é, com flores femininas e masculinas em plantas distintas), através de um mecanismo simples: o pistilo curto e os estames de pé pequeno tornar-se-iam cada vez menores até desaparecerem, restando uma flor masculina e uma flor feminina perfeitamente diferenciadas. Contudo, nas experiências que então conduziu, as flores com pistilos curtos polinizadas por plantas com estames também curtos produziam muito mais sementes do que as outras três combinações possíveis. Pouco depois, Darwin concluiu maravilhado que a dupla forma das flores, aliada à auto-incompatibilidade, seria um modo de forçar a polinização cruzada, o esquema de reprodução mais benéfico para quase todas as espécies.
Estarão a pensar, como nós, que essa opção pelo dimorfismo não está isenta de risco: e se os polinizadores não fizerem bem a sua parte da tarefa, levando pólen de estames altos para pistilos curtos, gastando assim o pólen em flores incompatíveis? É verdade que a barreira genética que impede a autogamia é uma aposta arriscada, mas no caso do Linum ou da Primula o processo funciona na perfeição: na fertilização de um ou de outro tipo de flor, a parte do corpo do polinizador que actua é distinta e devidamente ajustada a cada forma de flor.
O género Linum abriga cerca de duzentas espécies nativas de climas temperados. É da espécie L. usitatissimum que se faz a fibra para a fiação (a partir dos talos) e o óleo de linhaça (retirado das sementes). Se se pretende fabricar fibras, os talos não devem ter ramificações e, por isso, o cultivo de linho faz-se em semeadura compacta; se o interesse está no óleo das sementes, então privilegiam-se as plantas mais baixas e ramificadas, que originam mais flores e garantem mais sementes. As espécies que vimos na Cantábria são herbáceas frágeis, mas maiores e de flores mais vistosas do que aquelas que aparecem por cá; usa-se delas apenas a formosura.