15/08/2007

A ler- "Descansar os olhos na azinheira"

no Público de hoje, por Fernando Catarino

«(...) * Nome científico: Quercus rotundifolia Lam, família Fagaceae. A história de Fátima está indelevelmente ligada a esta árvore, que, ao tempo das aparições, era muito abundante na Cova da Iria.
Em plena paisagem cársica, junto ao rebordo norte do planalto de São Mamede, há uma sucessão de afundamentos no relevo, pequenas depressões fechadas, de fundo abaulado, de onde veio o nome "cova". Estas covas opõem-se a estruturas semelhantes mas mais extensas e aplanadas, os "covões", que se encontram junto de diversas povoações com a mesma denominação.
Não faltavam, na Cova da Iria, penedos e locais para as brincadeiras, havendo pasto fresco todo o ano, pelo que os pastorinhos gostavam de lá levar o gado. Apesar da aridez da serra, a Cova da Iria tem um clima mais húmido do que o restante Maciço Calcário, devido às chuvas e à humidade dos ventos tocados de norte.
(...)
Do ponto de vista botânico, as azinheiras pertencem a um grupo de árvores com uma vastíssima distribuição biogeográfica e grande diversidade, agrupadas sob o nome comum de "carvalhos". Trata-se de vegetais com grande interesse científico que caracterizam bem as peculiaridades edafo-climáticas e a ecologia de muitas paisagens no hemisfério norte.
De grandes longevidade e dimensões, dada a excelência da sua forma arbórea, a riqueza de utilizações e o valor económico, estas árvores são marcas notáveis dos locais e das paisagens em que ocorrem. Não admira, por isso, que façam parte integrante da memória e da história cultural dos povos que sempre lhes votaram destacado lugar nas lendas e na literatura.
Ricas de simbolismo, a ponto de, em várias civilizações antigas, terem tido o estatuto de árvores sagradas, as quercus, o nome que os romanos davam aos carvalhos, merecem, só por si, ser protegidas e ter a sustentabilidade dos habitats em que ocorrem assegurada.

Foi, decerto, uma bênção que, nas repetidas e vultuosas obras de adaptação e modernização do recinto do santuário, tenha sido possível poupar a belíssima
"azinheira grande" , junto à Capelinha, recentemente considerada de "interesse público". Com ou sem peregrinos à volta , faça o tempo que fizer, é sempre reconfortante descansar os olhos em tão formoso padrão vivo, testemunha e memória da harmonia ambiental do sítio e do tempo dos pastorinhos.

*Excertos da entrada "Azinheira", da Enciclopédia de Fátima, Ed. Principia; selecção de textos de António Marujo»
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Ler excertos de "Pastoral" (1º quadro) e "A Flor da Azinheira" (2º quadro) de O mistério de Fátima entrevisto, visionado e contado em alguns poemas por António Correia de Oliveira, 1954

1 comentário :

goldluc disse...

O excelente Professor Catarino (que no nome, na postura e na morfologia me 'devolve à vida' um avô....o«avô»), na sua imensa sabedoria, sabe também que quem trepa à azinheira, quando jovem, enamora-se perdida e definitivamente da terra. As pernadas da azinheira sutentam como colo de mãe eterna que acaricia com sombra e alimenta com a solidez. Não há, na planície aberta, figura como a do azinho. Bem haja!!