16/10/2009

A alegria das pequenas flores


Impatiens parviflora DC. - Hampstead Heath, Londres

E que tal começar o dia (ou terminar, dependendo de os seus hábitos serem mais ou menos noctívagos) com uma aula de latim? Garanto-lhe que é coisa pouca, não só porque o saber do mestre é de curto alcance, mas também porque uma lição prolixa e densa de assuntos se esvai da memória à velocidade a que a água escorre pelo ralo. Uma única e reluzente pérola de erudição: eis o que mais hipóteses tem de conquistar lugar permanente no armazém mental do leitor.

Parviflora é termo latino composto por duas partes: o prefixo parvi (de parva, parvus ou parvum), que significa pequena; e flora, indicativo de flor. O epíteto parviflora informa-nos pois de que a planta em causa tem flores pequenas (o que é exacto: cerca de 13 mm); grandiflora, epíteto da magnólia-sempre-verde, tem precisamente o significado oposto.

Alegria é o nome que se dá em Portugal à Impatiens walleriana, herbácea com flores de cores diversas (brancas, rosas, vermelhas) muito usada para forrar canteiros. Um nome tão... enfim... alegre, tão capaz de inspirar títulos chamativos (como o de hoje), não é para ser usado com parcimónia, e por isso decidi atribuí-lo a todas as plantas do género Impatiens. Que são mais de 850, distribuídas pelo hemisfério norte e pelos trópicos. Em inglês, levam elas os nomes de jewelweed e touch-me-not; o segundo é mais sugestivo, e refere-se à mesma impaciência de que o nome científico as acusa: quando são tocadas, ou mesmo quando não são, as cápsulas dos frutos explodem, dispersando as sementes.

Uma única espécie do género, I. noli-tangere, é nativa da Europa, mas outras há que por cá se naturalizaram. A que o fez com maior sucesso, a ponto de ser considerada praga em vários países do norte da Europa, foi a I. glandulifera, dos Himalaias. A I. parviflora, que trago aqui hoje, é originária da Ásia Central (Rússia, Mongólia, Quirguistão, Cazaquistão e Xinjiang) e também estabeleceu residência na Europa, embora o tenha feito com moderação. É uma planta ruderal que aprecia lugares com sombra, como a orla do bosque em Hampstead Heath onde a fotografei.

Nota. Pode ver outras Impatiens clicando na etiqueta Balsaminaceae já aí em baixo.

2 comentários :

Armando Alves disse...

Gostei bastante da sua intervenção no Biosfera relativamente ao Palácio.

Cumprimentos

Paulo Araújo disse...

Obrigado pela referência. Vou também pôr aqui no blogue, talvez amanhã, o atalho para essa edição do Biosfera.

Saudações,
PVA