07/07/2010

Rosa sempre rosa

Rosa sempervirens L.
Andava a trautear mentalmente a cantiga da rosa branca quando me lembrei de súbito que Max (ou Maximiano de Sousa) afinal se perdeu por uma pomba branca. E não podia estar mais distante a pureza alegórica dessa ave da promiscuidade que assola o mundo das rosas. Qualquer aprendiz de jardineiro compra dois pés de roseira e cria a sua própria rosa pelo simples expediente de transferir pólen de uma planta para a outra. Mas, mesmo na natureza, onde as rosas singelas não se desdobram numa confusão de pétalas, a fronteira entre espécies é tão incerta e oscilante como a de dois países em guerra. Calcula-se em mais de quarenta o número de espécies de rosas silvestres na Europa; 19 delas são reconhecidas pela Flora Ibérica como ocorrendo espontaneamente na Península. Porém, dentro da espécie R. sempervirens — e este é apenas um exemplo típico —, há quem tenha tido a minúcia de distinguir dezenas de subespécies, variedades ou mesmo subvariedades. Embora carecendo em grande parte de valor taxonómico, estas subdivisões de uma única espécie são sinal eloquente do elevadíssimo grau de polimorfismo do género Rosa.

As nossas roseiras silvestres podem formar matagais quase tão densos e por vezes tão espinhosos como um silvado, e têm invariavelmente flores de cinco pétalas — as quais, conforme a espécie, podem ser brancas ou amarelas, ou exibir vários tons de rosa. A Rosa sempervirens não é a única que dá flores brancas, e por isso o leitor terá de estudar mais a fundo a lição se quiser aprender a reconhecê-la. Um carácter distintivo é que os estiletes no centro da flor estão fundidos em coluna, mas o verdadeiro segredo está nas folhas: lustrosas, pontiagudas, de margens finamente dentadas. Além disso, como nos diz o epíteto sempervirens, esta roseira é de folhagem perene, quando quase todas as suas congéneres são caducifólias.

As flores brancas e frescas são um espectáculo efémero, que decorre por duas ou três semanas entre Maio e Junho e que por cá só é encenado nalgumas províncias viradas para o mar: Algarve, Estremadura, Ribatejo e Beira Litoral. A roseira que posou para as fotos enfeitava um bosque no concelho de Vagos, no final de Maio, mas também a encontrámos para os lados de Coimbra.

1 comentário :

Anónimo disse...

Quero agradecer ao autor o belissimo texto produzido. Uma excelente sintese. Parabéns.
É lamentável que a esmagadora maioria dos viveiros não a produzam para que a possamos ter também junto de nós, na cidade.
Catarina