27/07/2010

Separados por uma flor


Hypericum elodes L.



Hypericum linariifolium Vahl

Até há dias, com a confiança de principiantes, julgávamo-nos capazes de reconhecer facilmente um hipericão. Mas, como terá explicado Lineu a propósito do nome do género (de acordo com a Flora Ibérica), estas são plantas que superam a nossa imaginação, e não apenas por causa da reputação medicinal e do valor como «espanta demónios». Qualquer uma das muitas espécies ibéricas que conhecíamos exibe, na Primavera ou no Verão, flores terminais com cinco sépalas, cinco pétalas amarelas - por vezes de face exterior púrpura - de bordos salpicados de castanho como bainha em que a costureira esqueceu os alinhavos, e numerosos (12 a 30) estames a formar uma coroa no centro. Contudo, o que encontrámos junto a um ribeirinho extenuado em Valongo - que rega um prado que parece açoriano - não cumpre o figurino, embora isso seja difícil de confirmar a olho nu em flores cujo diâmetro não excede os 10 mm. Mas vê-se que são afuniladas, com pétalas estriadas cuja largura se reduz na base. Depois de ampliadas as imagens, salvaram-se o amarelo, as brácteas e sépalas com glândulas avermelhadas e as folhas opostas, inteiras e tipicamente sésseis. (Bem, a penugem que as reveste foi outra surpresa.)

O H. elodes, planta perene do oeste europeu e dos Açores, aprecia a areia ou a gravilha nas margens de lagoas e riachos (elodes deriva do grego helodes, paul). O caule é erecto e não almeja ir além dos 15 cm de altura; de folhas arredondadas, floresce de Junho a Setembro e é raro.

O H. linariifolium, também do oeste da Europa e da Macaronésia, a quem o povo chama hipericão-estriado, não engana os incautos. Apesar de as folhas glabras serem tão estreitas e longas (3 cm de comprimento), são revolutas e abraçam o caule como é usual neste género. Está em flor de Maio a Setembro e vegeta em matagais e terrenos incultos, preferindo solo rochoso. O exemplar das fotos, da serra do Açor, é pequenino, mas pode atingir os 30 cm; as pintas escuras nas sépalas são as tais glândulas cujos óleos curam e concedem milagres. Esta espécie é pouco abundante, ou de distribuição caprichosa no norte e centro do país.

1 comentário :

Francisco Clamote disse...

Também andei pela Serra do Açor e também encontrei por lá o "H. linearifolium". O curioso é que, só por mero acaso, não publiquei hoje no meu sítio uma fotografia dessa planta, tendo optado por outra do mesmo género. O "H. elodes" nunca o encontrei. Cumprimentos pelos excelentes trabalhos aqui publicados.