Estevão ardente
Num país apinhado junto ao mar, uma planta como o estevão (Cistus populifolius), que prefere viver longe da costa, faz figura de raridade. Se as suas flores, embora vistosas, não fogem ao figurino de congéneres suas como a esteva, já as folhas são um caso à parte, tanto pelo seu grande tamanho (até 8 cm de comprimento) como pelo formato cordiforme (semelhante ao das folhas dos choupos, e daí o epíteto populifolius). Quando pela primeira vez a vimos, no Douro, enfeitando o talude da estrada que desce de São João da Pesqueira para a barragem da Valeira, ela obrigou-nos a uma travagem ainda mais brusca do que um súbito semáforo vermelho. Ao inspeccionarmos o local, outras plantas valiosas se revelaram à nossa vista; uma delas já aqui apareceu, e outras duas terão o seu momento esta semana.
Asseveram as habituais fontes que o estevão está presente em toda a metade sul do país, mas que no norte e no centro ele se encontra confinado ao interior. Custa-nos porém crer que uma planta tão apelativa nos passasse sempre despercebida nas nossas incursões ao Portugal profundo. Diríamos pois que, apesar de ter uma ampla área de distribuição potencial, ela não é de modo nenhum abundante. No Guia de campo: as árvores e os arbustos de Portugal continental (Público / LPN - 2007) afirma-se que a espécie é frequente em matos de substituição de sobreirais, sobre solos delgados e ácidos; e acrescenta-se que, apesar de ter qualidades ornamentais, o seu uso mais comum é como combustível. Referir-se-á o livro ao fogo da lareira ou ao fogo estival que corre solto pelos montes? Em qualquer caso, consideramo-nos afortunados por termos visto o estevão antes que arda tudo.
2 comentários :
Vivo no Douro, para onde vim há já alguns anos.
Sempre gostei de plantas. Gosto de saber os seus nomes e histórias, sem que contudo tenha formação científica na área.
Pois a primeira vez que vi o estevão, na região de Armamar, com as suas folhas atípicas e na altura sem flor, muitas vezes cocei a cabeça sem contudo produzir resultados. Felizmente na Primavera do ano seguinte a observação das flores e analogia com as flores das suas congéneres, forneceu-me pistas para a sua identificação.
Na companhia de algumas estevas, roselhas, sargaços e sargacinhos, possuo neste momento alguns estevãos no meu jardim.
Caro Rafael:
Começo a perceber que o seu jardim tem uma amostra muito mais ampla da flora espontânea portuguesa do que os nossos jardins botânicos. É sem dúvida um belo feito.
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