Mata do Martagão
Lilium martagon L.
No ano passado, ia Julho a meio, fomos à Mata da Margaraça para ver as flores deste lírio, cuja floração, asseguram as referências botânicas, decorre de Junho a Agosto. Esta espécie de Lilium também existe no Gerês — de facto, em quase toda a Europa porque foi introduzida onde se crê que não existia (Inglaterra e países nórdicos) e ali se naturalizou —, mas neste bosque há muitos exemplares e a floração deveria, por isso, ser mais vistosa. E, de facto, lá estavam umas dezenas de pés, alguns altos, com os característicos saiotes de folhas e hastes enfeitadas por 3 a 10 botões que pareciam prometer qualquer coisa. O problema é que todas as plantas tinham combinado mostrar exactamente o mesmo aos visitantes, e nem uma exibia ainda flores. Ainda. Basta cá voltar daqui a quinze dias... Pode ser até que, nessa altura, encontremos a orquídea rara daqui. Bem, fotografemos o botão. O que será este pauzinh ... mas é um estilete! Que infelicidade: a floração já tinha passado, era preciso esperar pelo ano seguinte. Viemos embora pela mesma estrada, com cara de roubados.
Começámos a planear a nova ida à Mata em Março. Imagina se vamos perder uma flor que seja. Abril. Será que este ano, com tanta chuva, florescem? Maio. Ah, os botões das flores afinal distinguem-se bem dos frutos, nascem cobertos de lã. E se os javalis os comem? Junho. Fotografámos finalmente (o advérbio é pobre) dúzias de lírios perfumados e coradinhos, uns funis cheios de néctar com seis pétalas reflexas a formar chapéus-turcos pequeninos (cerca de 5 cm de diâmetro), inclinados para o solo como quem olha atentamente um carreiro de formigas. Cada flor tem seis estames com anteras versáteis e um estilete longo com um estigma-maçaneta trilobado. E reparem que, seguindo as regras de bem-conjugar cores de meias e sapatos, os caules perto das flores estão pintalgados de vermelho. Quando guardámos as fotos na escuridão dos bits, julgámos estar a encher, em vez de escavar, uma mina.
Os Lilium são plantas perenes, bolbosas. Há cerca de cem espécies, nove europeias; algumas asiáticas consomem-se como legumes. A açucena (L. candidum L.), ou Madonna lily, é cultivada ou pintada, há mais de 25 séculos.
2 comentários :
Muito bonito! Espero um dia também visitar a Mata da Margaraça. Era muito bom se, além de protegerem estas minúsculas florestas originais, tentassem expandi-las.
Psssssssssst!
A Mata da Margaraça é um segredo bem guardado...
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