Lançado na boa vida
O Complexo Intermareal Umia-O Grove começou num istmo arenoso e longo (cerca de 3 quilómetros) que liga o continente à Península de O Grove. Dessa união nasceu a sudoeste (à direita na foto) uma das praias mais famosas da Galiza e, do outro lado, uma enseada, dita de O Bao, onde desagua o rio Umia (e outros de menor caudal) que, associada à Ria de Arousa (à esquerda), constitui um dos ecossistemas dunares mais importantes do noroeste da Península. Declarada Zona de Especial Protecção dos Valores Naturais, da Rede Natura 2000, é um refúgio de milhares de aves e de endemismos botânicos galaicos e ibéricos, acarinhados sob rígidas normas de conservação.
O processo de colmatação do areal faz com que a enseada seja pouco profunda e, na maré baixa, pouco alagada; com isso, a acumulação dos sedimentos deixados pelos rios acabou por gerar um sapal. Aqui e nas dunas adjacentes instalaram-se mais de cem espécies de plantas que apreciam regiões abertas à beira-mar e este habitat misto, de água doce e salgada — em particular, muitas espécies da família Chenopodiaceae. E, claro, as respectivas parasitas, como a Cistanche phelypaea, cuja presença se começa a notar no areal no fim do Inverno mas só floresce na Primavera.
Em Portugal há habitats semelhantes a este, como a Ria Formosa: uma enseada de mar protegida pelas penínsulas de Faro e Cacela, cinco ilhas e inúmeras ilhotas, e que abrange uma área de cerca de 18 mil hectares onde desaguam dois rios e alguns ribeiros. Como a Lanzada, está formalmente protegida (é Parque Natural, estatuto atribuído por decreto-lei de 1987, e Zona de Protecção Especial por directiva europeia) e pertence à gloriosa lista das Zonas Húmidas de Importância Internacional; mas a pressão urbanística e do turismo ameaçam o compromisso português de preservar este sistema ecológico. Entre Março e Junho, antes de os veraneantes invadirem as praias algarvias, pode-se admirar o hermoso manto amarelo que a floração desta Cistanche proporciona.
É uma planta perene que suga água e nutrientes às raízes lenhosas de que se avizinha: as folhas, sem clorofila, são triangulares, basais e imbricadas, e cumprem a função de haustórios, penetrando, como cunhas, nas raízes dos hospedeiros. A espiga densa de flores chega aos 50 cm de altura e cada flor tem uma bráctea, um cálice em sino e uma corola tubular com cerca de 5 cm feita por cinco lóbulos amarelos revirados e duas protuberâncias na garganta.
Ocorre no Algarve, Baixo Alentejo, Beira Litoral e Estremadura, e é nativa do sudoeste da Europa, Norte de África, Canárias, Cabo Verde, parte do Mediterrâneo e sudoeste da Ásia. Foi nomeada por vários botânicos (Lineu em 1753 chamou-lhe Lathraea phelypaea; foi depois Phelypaea lusitanica e mais tarde Orobanche compacta) mas a designação actualmente aceite foi-lhe dada por Antonio Xavier Pereira Coutinho em 1913. O epíteto específico homenageia o político Louis Phelypeaux, patrono da ciência e, em especial, do botânico Joseph Pitton de Tournefort (1656-1708). O género Cistanche (nome que talvez indique a acção parasita sobre plantas do género Cistus) inclui 16 espécies de África, Ásia, Mediterrâneo e sul da Europa.
Os botânicos procuram ainda confirmação da existência na Península Ibérica de outra espécie, a C. violacea (Desf.) Hoffmanns. & Link., de menores dimensões, natural de regiões áridas ou semi-áridas do norte de África e de que se conhecem descrições em herbários espanhóis.
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