20/10/2010

O mar nos rochedos


Silene uniflora Roth

Quem assobia à beira-mar deve encher o peito para que o seu silvo se sobreponha ao ruído incessante das ondas. Talvez seja essa a explicação por assim dizer científica para os cálices insuflados da Silene uniflora, mesmo que o nome vulgar assobios só no idioma luso se aplique a estas plantas. E, além da fraca ciência, vem-nos à mente a consabida verdade de que para conhecermos bem a nossa terra só temos de ir embora e voltar. Vimos pela primeira vez esta planta na Galiza, já Agosto se abeirava do seu termo. No fim-de-semana seguinte, em ida ocasional a Lavadores, lá estava a Silene nos grandes rochedos que se amontoam entre o paredão, o mar e o rio. Mas ela, que nem uma flor nos deixou ver, tinha boas razões para se mostrar amuada connosco. Sempre ali esteve à nossa espera, em muito maior quantidade do que nas praias galegas, e nós ignorámo-la até hoje. Acordámos as pazes com a promessa de fazermos em 2011 uma sessão fotográfica que a mostre em toda a sua glória.

Até lá, remedeiam as plantitas que, com grande embaraço nosso, fotografámos numa praia de nudistas em O Grove. Sob o olhar desconfiado de veraneantes já prontos a entregar-nos às autoridades sob a acusão de voyeurismo, apontámos resolutamente a objectiva para o chão, e só a erguemos já com a tampa no lugar. Ninguém dará crédito ao nosso alegado interesse botânico se repetirmos a incursão, a menos que enverguemos os mesmos trajes sumaríssimos que são de lei em tais paragens. Antes ficarmos por Lavadores.

A Silene uniflora, especialista em rochas e falésias marítimas, é uma planta glabra, de folhas verde-azuladas e semi-carnudas, que floresce de Abril a Agosto e ocorre no litoral europeu desde a Itália até aos países nórdicos; em Portugal continental só aparece, e pouco, no norte e no centro, mas em compensação é uma presença comum em quase todas as ilhas açorianas (as excepções são Santa Maria e Graciosa).

4 comentários :

rui disse...

como eu te compreendo! nos meses quentes é um pesadelo fotografar vida selvagem nas dunas e praias,ou há-de haver casais homesuxais nas dunas a fazer-se sabe-se lá o qué e a contribuir para a destruição das mesmas, e que bons exemplos dessa deprimência observam-se infelizmnete na reserva de Mindelo!, nas dunas de Paramos!, nas dunas de Rodanho!, ... ...; ou veraneantes nas praias desconfiados daquele indivíduo com a máq. fotográf.!

Quanto á silene é verdade que ela abunda nestes rochedos tal como a outra umbelifera de folhas carnudas e um pequeno feto ali raro que se encontra nos interstícios.
Grandes cumprimentos

Paulo Araújo disse...

É difícil conjugar a protecção das dunas com o recreio dos veraneantes... Mas em Portugal acho que quase não se faz esforço para isso, mesmo em áreas nominalmente protegidas. O litoral de Gaia, apesar dos modernos bares que enxameiam as dunas, acaba por ser um exemplo positivo, pois os passadiços (e, nalguns pontos, as vedações) conseguem dissuadir o pisoteio.

O pequeno feto deve ser o Asplenium marinum, que até é muito bonito. As rochas a que te referes são as mesmas onde vive a Silene uniflora, em Lavadores? É que não encontrei o feto por lá - embora não o tenha procurado com grande minúcia, e já o tenha visto noutros pontos do país.

rui disse...

quem vem do cabedêlo, no primeiro grande rochedo naquela pequena "baía" com uma praia de seixos grossos está lá um desses fetos, curiosamente mesmo virado para o mar(adoro procurar intensivamente estes pequenos seres vivos!) provavelmente não haverá mais pela falta de lugares apropriados á sua fixaçáo ou pelo mesmo motivo que referi no 1º comentário.Também sei que nos rochedos de Leça onde está uma capela existem bastantes exemplares bem como de Armeria.

Paulo Araújo disse...

Obrigado, Rui. Havemos de ir espreitar melhor esses rochedos.