12/10/2010

Tranças de Outono

Spiranthes spiralis (L.) Chevall.
Esta é a orquídea mais tardia do ano, a única de floração outonal no continente, que aprecia prados abertos, com pouca humidade e solo pobre, e dunas soalheiras à beira-mar. Das mais formosas, para vincar a elegância, as flores são levemente perfumadas, peludinhas e dispostas em hélice de passo curto — dizemos nós, os admiradores. Mas tem de haver outras vantagens, para a planta, nesta estrutura helicoidal, que o nome latino da espécie sublinha repetindo a informação do grego spiranthes (de speira, torcido, e anthos, flor).

De facto, são várias as peculiaridades que se complementam para beneficiar o processo de polinização desta orquídea. Cada flor é um sino estreito de sépalas (como braços) e pétalas (mais curtas) brancas, com um labelo amarelo-esverdeado (que distingue pela cor esta espécie da S. aestivalis (Poir.) Rich.) na base do qual estão duas tacinhas de néctar e uma protuberância em forquilha (o rostelo, com uma gota de cola) que dificulta a auto-polinização mas que cede amavelmente os sacos de pólen ao insecto que lhe tocar. Além disso, apesar de pequeninas (cerca de 7 mm), as flores das lady's tresses são em geral polinizadas por abelhas que, ao acederem ao doce, roçam inevitavelmente nos sacos de pólen e assim o libertam. Contudo, as flores na parte superior da haste são mais jovens e ainda não são férteis quando as da base já estão receptivas. O arranjo no suporte recurvo adequa-se, por isso, ao esvoaçar usual dos insectos, que começam a visita à inflorescência pela base, não sobem a direito e no topo só recolhem pólen. Um dia depois de entregar o pólen a um visitante, a flor abre-se e o rostelo endireita-se, deixando livre o acesso ao estigma que está agora pegajoso: o próximo insecto a inspeccioná-la deixará ali o pólen que transportar. O intervalo de 24 horas e o movimento da abelha da base para o topo asseguram que este pólen vem de outra inflorescência, promovendo-se assim a polinização cruzada.

Cada flor produz cerca de 850 sementes, um valor baixo entre as orquídeas, mas a planta também se propaga vegetativamente através de rebentos laterais. Os exemplares mais altos que encontrámos tinham cerca de 15 cm de altura, mas o talo de flores pode chegar aos 30 cm. Uma das fotos mostra uma roseta basal de folhas ovais ao lado da espiga florida: são as folhas da próxima estação, que se manterão à superfície até à Primavera de 2011, desaparecendo em Junho, uns quatro meses antes de surgirem as novas flores.

O género Spiranthes contém dezenas de espécies (o desacordo entre taxonomistas situa o número algures entre 45 e 300) da Ásia, Austrália e América, a maioria da América do Norte e Central. Na Europa só há quatro, e dessas apenas duas, e raras, sobram para Portugal.

3 comentários :

Rúben Vila Boas disse...

Linda!

Rafael Carvalho disse...

Desconhecia a existência desta espiralada beleza!
Cumprimentos.

Anónimo disse...

Continua a ser um gosto passar por aqui. Abraço!
a) flordocardo