15/10/2010

Granito em flor


Antirrhinum graniticum Rothm.

Mesmo que o vento e a chuva se façam arredios, o tempo das flores já passou. Não de todas elas, porque há sempre as que chegam tarde e as outras que não respeitam qualquer calendário. Mas passou o colorido que as flores irradiavam à sua volta: as poucas que sobram esbatem-se nos tons outonais da paisagem.

Mostrar agora estas bocas-de-lobo parece assim ser um exercício de nostalgia, uma recusa em aceitar a sucessão natural das estações. E, na verdade, uma das fotos aí em cima foi tirada em fins de Maio, num talude duriense que já nos deu assunto para vários postais. Contudo, a foto da direita é de Outubro de 2009: foi há um ano, na estação de Foz Tua, muito perto dos carris de bitola estreita, que vimos este Antirrhinum graniticum em flor. A planta tinha instruções muito claras para florir o mais tardar em Agosto e entrar em hibernação logo depois de frutificar. Mas, governando-se talvez pelos horários das automotoras da linha do Tua, terá ficado desorientada quando elas deixaram de circular.

Das seis ou sete espécies de bocas-de-lobo que ocorrem em Portugal, a mais conhecida é decerto o A. linkianum (sinónimo: A. majus subsp. linkianum), muito comum em todo o litoral desde Ovar até à Costa Vicentina. O A. graniticum até poderá ter uma distribuição mais ampla (está presente em Trás-os-Montes, nas Beiras, no Alentejo e no Algarve), mas como prefere o interior do país não dá tanto nas vistas. A sua escolha de habitat está explícita no epíteto graniticum: fendas de rocha, taludes, muros, terrenos pedregosos. É uma planta vivaz, ramificada, com hastes de até um metro de altura e folhas glandulosas de cerca de 6 cm de comprimento, que floresce de Abril a Julho ou quando muito bem lhe apetece.

1 comentário :

Anderson Porto disse...

Aqui no Brasil é primavera, mas pelo que andam falando, as plantas daqui não seguem a cartilha das estações. Florescem como em qualquer clima tropical: toda hora, a qualquer momento.

Abraços!