Urze do mar
Frankenia laevis L.
Regressemos à praia para sacudirmos a melancolia que sobreveio à recente combinação de chuva e vento. Uma vez que a semana se iniciou com tanto sucesso à volta do queijo — os comentários foram tantos que houve que recolocar a contagem em zero —, continuaremos a degustar o pitéu.
Esta planta de flores de seda cresce como uma avenida cortada por um labirinto de ruas transversais onde se apinha a folhagem. Identifica-se pelas margens revolutas das folhas (lembram sovelas) que são simples, inteiras, opostas, lanceoladas, com cerca de 3 mm de comprimento e ligeiramente penugentas, semelhantes às da urze mas polvilhadas de sal: vistas da face inferior, lembram pães de trigo com queijo fresco — e pan y quesillo é um dos nomes com que os espanhóis a brindaram. Tolera tão bem os excessos de sal que o usa como creme protector dos raios solares, cobrindo as folhas com uma crosta que depois a humidade da noite facilmente desfaz. Ou ela não se apoquenta com a tensão alta nos vasos seivosos, ou então acha, como o poeta Manuel António Pina, que a saúde é um estado precário que não augura nada de bom.*
De base lenhosa, esta herbácea perene forma matinhos rasteiros que, no Verão, se adornam de flores — solitárias ou, mais raramente, em inflorescências — com pétalas de uns 5 mm de diâmetro e ápices dentados como caudas de andorinha. O povo, atento, não perdeu a oportunidade de lhe atribuir outro nome a propósito, flor-de-golondrina. Por contraste com espéces de folhas ásperas, esta, de textura mais macia, é laevis. Encontrámos neste fim-de-semana, numa praia da ilha Terceira, exemplares da anual F. pulverulenta L.; no sábado poderão aqui compará-la com a F. laevis.
O género Frankenia abriga sete espécies espontâneas na Península Ibérica, três presentes em Portugal das quais uma (F. boissieri Reut. ex Boiss.) só ocorre no Algarve. O homenageado, Johan Frankenius (1590-1661), foi professor e naturalista em Uppsala, autor, em 1633, de Speculum Botanicum, uma das primeiras listagens das plantas suecas.
*Por Outras Palavras & mais crónicas de jornal (Modo de Ler, 2010)
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