25/10/2010

Arroz cristalizado



Sedum pruinatum Brot.

Já é o segundo endemismo galaico-português que mostramos em poucos dias. É da história que no noroeste da Península Ibérica, em tempos medievais, se falava uma única língua, de que hoje nos chegam ecos na poesia trovadoresca que é reproduzida em manuais escolares. Uma divisão territorial arbitrária acabou por partir essa língua em duas; e, embora foneticamente distantes um do outro, os idiomas português e galego revelam bem na escrita os seus laços ancestrais. Com a liberalização das fronteiras intra-europeias, o norte de Portugal e a Galiza passaram a visitar-se mutuamente com maior assiduidade. Mesmo que a união política nunca chegue (e será mesmo necessário tal formalismo?), aprendemos, nestas incursões, que há uma continuidade geográfica e cultural muito mais forte do que qualquer fronteira. Até que um governo estúpido nos vem lembrar que as fronteiras afinal nunca foram abolidas, e que quem mora do outro lado deve ser tratado como estrangeiro. Quem venha da Galiza e queira usar a A28, uma ex-SCUT que liga o Porto a Caminha, não pode simplesmente pagar a portagem, pois na auto-estrada não há nenhum posto ou máquina onde o fazer. Terá que alugar um identificador electrónico por 27 euros, se conseguir encontrá-lo nalguma loja, e acrescentar a essa quantia um pré-pagamento de 50 euros. Em nenhum outro país do mundo se cobram portagens de tal modo exorbitantes, e com tamanho incómodo para os utentes. Embora isso nada signifique para quem nos desgoverna, o norte de Portugal e a Galiza voltaram a ficar longe um do outro.

O que nos vale é que as plantas não percebem nada de política nem viajam pelas auto-estradas. O Sedum pruinatum é mais português do que galego, visto que, do lado de lá, só ocorre no sul da província de Ourense, nas serras que prolongam o maciço montanhoso da Peneda-Gerês. Talvez essa escapadela para os montes galegos tenha sido a moeda de troca pela vinda das cabras montesas, também elas indiferentes ao significado dos marcos fronteiriços. Em todo o caso, a presença do Sedum pruinatum no país vizinho é tão escassa que a espécie está listada como vulnerável no Catálogo Galego de Especies Ameazadas.

No nosso país, o S. pruinatum, ainda que não seja abundante e esteja restrito à metade norte do território, não é difícil de encontrar. Vimo-lo em diferentes locais da serra do Gerês (no trilho dos Carris, em Pitões das Júnias, etc.) e também na serra do Açor. Na estrada para Piódão começa a florir em meados de Junho, dividindo com os cravos silvestres a tarefa de enfeitar os taludes pedregosos.

Última hora. Recessão atinge Dias com Árvores
As medidas de contenção orçamental que têm asfixiado o país obrigam-nos a refrear o ritmo das actualizações do blogue. Passaremos a estar fechados aos sábados e domingos, e às quartas-feiras publicaremos apenas uma entrada abreviada.

1 comentário :

Anónimo disse...

Ainda bem que NÃO! Verifiquei datas.
Foi peta, como a novela do pec.
Há tantas coisas miudinhas para observar... Não vos faltarão os olhos!
Abçs da bettips