Erva queijeira
Num certo sentido, não é estranho que haja tantas ervas leiteiras. Afinal, o leite que bebemos depois de desmamados não é mais do que pasto transformado por interposta vaca. Agora que matutamos no assunto, ocorre-nos aliás que grande parte do que comemos são ervas. Para nos pouparmos à monotonia (pois a espécie humana depressa se entediaria de uma dieta fixa), recorremos a vários processos, naturais ou artificiais, para que essas ervas, antes de nos serem servidas à mesa, tomem diferentes aspectos e sabores. Mas não nos iludamos: carne, leite, salada — é tudo pasto.
Foi o nome científico da erva-queijeira (ou erva-coalheira) que suscitou esta conversa. Galium vem da palavra grega gala, que significa leite; e a mesma secreção aparece em Ornithogalum e em Polygala. A relação destas duas plantas com o leite — para além da circunstância atrás referida de tudo ter a ver com tudo — ou é de índole metafórica, ou radica numa crença não comprovada sobre as virtudes nutricionais do vegetal em causa. No que ao Galium diz respeito, porém, essa relação é íntima e directa, e é reconhecível nos nomes com que o povo o baptizou. É mesmo verdade que as inflorescências do Galium verum, e de outras plantas suas congéneres, foram e são usadas para coalhar o leite na produção artesanal de queijo. Não sabemos se o Galium presta melhor serviço do que os diversos cardos que igualmente se empregam nessa tarefa, mas é sem dúvida uma planta mais elegante.
Interessante também é os ingleses chamarem bedstraw às plantas do género Galium. Com a costumeira prolixidade da nossa língua, as duas sílabas do vocábulo inglês convertem-se em algo como palha-para-colchões. Ao que parece, estas plantas cheiram a palha; e, uma vez secas, têm usos semelhantes — com a vantagem de afugentarem as pulgas se forem usadas para forrar o leito. O Galium verum, talvez por ser mais bonito do que os seus irmãos (é o único que dá flores amarelas), é conhecido como lady's bedstraw. Não é qualquer um que faz a cama às senhoras.
3 comentários :
Provavelmente trata-se do Galium belizianum, uma espécie endémica do norte de Portugal e sul da Galiza e que foi confundida durante muito tempo com o Galium verum.
Abraço
Paulo Alves
Obrigado, Paulo. Não tinha considerado essa hipótese porque o Galium belizianum não consta das listagens da flora do Gerês. Significa isso que o Galium de flores amarelas que por lá é frequente não é o G. verum mas sim o G. belezianum? Ou ocorrem lá os dois?
Abraço,
Paulo
Nunca lá vi Galium verum, que é mais comum no planalto transmontano. O G. verum distingue-se bem do G. belizianum porque é bastante piloso.
Abraço
Paulo
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