11/04/2011

Junípero, genebra, gin



Juniperus communis subsp. alpina Suter

Talvez seja deformação profissional esta mania de mostrar o que é comum só depois de termos esgotado o que é invulgar. Ou então vaidade de coleccionador que se alimenta da inveja dos outros. Já admirámos o zimbro-galego no vale do Tua, já visitámos a sabina-da-praia nas matas do litoral, já voámos até aos Açores para vermos o cedro-do-mato aconchegado na sua nuvem. São três Juniperus mais ou menos incomuns que frequentam lugares especializados. Só agora chega a vez do Juniperus communis — ou, traduzido em vernáculo, do zimbro-comum.

Podemos alegar como atenuante que, em território português, o Juniperus communis é a menos comum das quatro espécies. Apesar da sua amplíssima distribuição nas regiões frias e temperadas do hemisfério norte, em Portugal ele só se encontra, e em populações escassas, nos lugares mais altos das serras da Estrela e do Gerês. De folhagem perene mais ou menos aciculada, é um arbusto que em geral não ultrapassa os 60 cm de altura mas ocasionalmente pode atingir os 2 metros.

O porte do Juniperus communis é aliás motivo de alguma controvérsia. Entre as suas inúmeras subespécies, há duas — subsp. alpina e subsp. hemisphaerica — que estão assinaladas em Portugal. Distinguem-se elas sobretudo pelo tamanho: os indivíduos rasteirinhos integrariam a subsp. alpina e os outros, mais encorpados, a subsp. hemisphaerica. Se usarmos esse critério então o arbusto das fotos em cima pertence sem dúvida à segunda das subespécies. Contudo, os especialistas assinalam também uma diferença na folhagem: a da subsp. alpina teria as folhas pontiagudas e encurvadas para diante. A essa luz, a folhagem que fotografámos é claramente da subsp. alpina. Os dois critérios encaixam pois o mesmo indivíduo em duas subespécies distintas. A maneira de desfazer a confusão é (como fez João Honrado na sua tese Flora e Vegetação do Parque Nacional da Peneda-Gerês) decidir que no Gerês ocorre uma só subespécie, a alpina, de morfologia altamente variável.

As coníferas dão em geral frutos lenhosos, mas os juníperos têm a particularidade de produzir "bagas" carnudas. As do Juniperus communis têm usos tradicionais em culinária, seja para temperar carnes ou mesmo para adicionar um travo peculiar a certas bebidas alcoólicas. De facto, elas são um ingrediente indispensável na preparação do gin, termo que aliás derivará de genièvre, designação francesa para junípero.

1 comentário :

Quinta das Mogas disse...

Só falta o ribeiro de água tónica e um limoeiro por perto... :)