25/10/2016

O sol na cascalheira

No acesso ao Cabeço das Flores e à praia do Zimbralinho, na ponta oeste da ilha de Porto Santo, nota-se logo com alguma estranheza o solo amarelo farinhento. Feito de areia com fragmentos de conchas e algas, esfarela-se ao mais leve toque, desabando com a trepidação causada pela passagem de veículos. Não fosse a chuva miúda, afinal não tão rara nesta ilha, sairíamos dali como padeiros no fim de uma fornada. Estamos num dos mais famosos geossítios da ilha, com indícios de vulcanismo submarino e habitats movediços, onde a erosão é preocupante apesar de ali terem sido plantados muitos pinheiros-de-Alepo (uma espécie resistente ao vento e à maresia com origem na região mediterrânica e descrita a partir de exemplares sírios).


Porto Santo: plantação de pinheiros-de-Alepo (Pinus halepensis Mill.) no Zimbralinho

Prossigamos até ao topo da falésia. Com o mar azul-turquesa ao fundo, começa ali uma escadaria íngreme que nos levaria a uma pequena enseada. Porém, a impedir-nos a descida está um guarda vigilante. Diz-nos ele que, naquele dia, não é permitido descer à calheta pois há uma equipa a preparar a temporada balnear que se avizinha. Onde? Ali, no cabeço, vê? Estão a soltar as pedras mal presas, as que não tardariam a tombar dos taludes. Uma vez caídas, restará uma casca bem segura que só será um perigo daqui a uns dois anos, altura em que é realizado um novo descasque.



Restou-nos recuar e procurar plantas cobertas de pó nos recantos das rochas do caminho. E lá estava, refastelado naquele ambiente seco e arenoso, um Heliotropium encimado de flores de miosótis brancas com um centro amarelo, como é usual neste género. Mas a aparência geral da planta destoava do que conhecíamos, fosse pela inflorescência mais densa ou pelas folhas crispadas, com margens revolutas, onduladas e ligeiramente crenadas. Julgámos tratar-se do H. europaeum, espécie anual frequente em Portugal, tão incomodado como nós com aquela argila calcária fina e salgada. Mas não. Trata-se de outra espécie de Heliotropium, perene e por vezes lenhosa, nativa de África, da Península Arábica, da Ásia, e das ilhas de Porto Santo e das Canárias.


Heliotropium ramosissimum (Lehm.) Sieber ex DC. [= Heliotropium crispum Desf.]


Das cerca de duzentas espécies conhecidas neste género, uma é naturalizada e duas são consideradas espontâneas na Península Ibérica: o H. europaeum e o H. supinum.



Heliotropium supinum L.


Ao contrário da espécie de Porto Santo, o rastejante H. supinum precisa de humidade no solo e aprecia margens pedregosas de rios asseados onde se espraiar. Como as do rio Sabor que escaparam à nova barragem.

18/10/2016

O que comem as borboletas


Rumex acetosella L.
Estas azedas pouco devem à beleza convencional das flores de jardim, mas nem por isso são modestas ou acanhadas. Onde haja solos secos e ácidos, elas não tardam a responder à chamada, intrometendo-se muitas vezes como hóspedes indesejáveis em campos de cultivo. Em ambientes mais naturais, são presença quase constante em afloramentos xistosos ou graníticos. A floração, que se prolonga de Março a Agosto, exibe o vermelho vivo de quem gosta de se fazer notada, embora individualmente cada flor seja insignificante.

De origem euro-asiática, mas actualmente de distribuição cosmopolita, o Rumex acetosella é uma planta perene, dióica, rizomatosa, capaz de se reproduzir por estolhos e por isso não raro ocupando vastas áreas. As hastes podem por vezes ultrapassar os 40 cm de altura, mas em geral ficam-se por bastante menos. As folhas são pequenas, embora de pecíolo comprido, e distintamente sagitadas (ou seja, com dois lóbulos basais pontiagudos e divergentes). São aliás as folhas (e, para os observadores mais pacientes, a morfologia das flores) que permitem distinguir o R. acetosella do R. bucephalophorus, uma outra azeda muito disseminada e de pequeno tamanho, com inflorescências igualmente avermelhadas mas de folhas não sagitadas. Outro dado a ter em conta é que, pelo menos em Portugal, o R. acetosella não costuma frequentar areais costeiros, habitat onde o R. bucephalophorus pode ser pontualmente abundante.

Não haverá, na perspectiva egoísta da humanidade, nada de bom que se possa dizer deste Rumex? Como sucede com a generalidade dos seus congéneres, as folhas, que têm um travo ácido, podem quando tenras ser consumidas em saladas. E, se gosta de ver borboletas a esvoaçar, fique a saber que uma borboleta bonita como esta depende exlusivamente, no seu ciclo de vida, de plantas do género Rumex, entre elas avultando o R. acetosella.

15/10/2016

Pequenos remédios

Propomos-lhe hoje que comece por desenhar um pequeno traço fininho e vertical ao fundo de uma folha de papel, e que na ponta de cima do traço coloque dois outros traços um pouco menores a formar um V. Tem agora à sua frente um Y. A cada uma das duas pontas superiores deste Y, junte agora um novo par de segmentos em forma de V. Repita esta operação umas dez vezes. Obterá uma figura que, apesar do curto talo inicial e dos minúsculos tracinhos que foi acrescentando, ocupa uma boa porção do papel. Se em cada nó assentar duas pequenas folhas opostas e sésseis, e no topo do desenho algumas flores cor-de-centáurea de quatro ou cinco pétalas enfeitadas com um dentinho no ápice, terá um esquema fiel da planta que hoje aqui mostramos.


Exaculum pusillum (Lam.) Caruel


Esta estratégia de ramificação nota-se em plantas que, por habitarem prados temporariamente encharcados, precisam de evitar demasiada exposição à humidade das folhas e das flores; ou naquelas plantas com flores diminutas a quem convém aumentar a visibilidade das cimeiras de flores, como acontece no género Euphorbia. É um estratagema eficiente e barato pois, sem crescer demasiado, o que gastaria tempo (que falta a plantas anuais) e muita energia e nutrientes (que não abundam em solos arenosos), basta à planta organizar algumas poucas folhas e ramos de tamanho reduzido (pusillum) num arranjo mais favorável.

Há uns anos procurámos na serra do Açor esta única espécie de Exaculum, mas sem sucesso. Se reparar, a distribuição conhecida desta espécie em Portugal, embora se afirme na Flora Ibérica que vai do Algarve ao Minho, parece evitar o norte do país, mais próxima de nós. Por puro acaso, vimos no fim do ano passado uma população numerosa nas margens da lagoa da Pipa, mas já sem flores. Este ano voltámos ao Ribatejo em Julho e em Setembro e, além da Pipa, foram várias as lagoas em cujas margens detectámos este emaranhado típico dos raminhos de Exaculum.

O Exaculum pusillum é uma espécie anual que ocorre no sul e no oeste da Europa e no norte de África, mas, por ocupar uma área global restrita e muito fragmentada, em habitats vulneráveis ou em declínio, foi incluída com o estatuto de "quase ameaçada" na lista vermelha da IUCN para a flora em risco.

11/10/2016

Ouro em pó

Uma das obrigações do turista em São Miguel é, pelo menos uma vez, tomar banho nas águas sulfurosas e tépidas da Caldeira Velha. Não será bem uma obrigação, já que pode fazer o mesmo no parque das Furnas, mas a Caldeira Velha é um lugar mais recatado, tanto por ter entrada paga como por ser afastado das povoações. Há uma fonte de água escaldante, capaz de cozer qualquer incauto que nela mergulhe, mas que logo depois se mistura com a água fria de um ribeiro para alimentar várias piscinas naturais a uma temperatura tão deliciosa como a do banho lá em casa.

Desde a entrada até às piscinas, são muitos os avisos aos visitantes para não saírem dos caminhos e não pisarem ou danificarem a vegetação. Quem ignora as indicações é imediatamente admoestado pelos vigilantes que patrulham o recinto. Justificar-se-á tanta preocupação por estarmos num refúgio de espécies raras da flora açoriana, que importa pôr a salvo das tropelias dos visitantes? O coberto vegetal, infelizmente, não merece tal desvelo, dominado que é por plantas ruderais e pelas mesmas exóticas invasoras a que nos habituámos. Sim, a colecção de fetos ou afins (Dryopteris azorica, Diplazium caudatum, Culcita macrocarpa, Palhinhaea cernua) é valiosa e atraente, mas não chega para disfarçar o desmazelo no controle da vegetação infestante. Um pífio "jardim de endémicas", em estado de completo abandono, com uma dúzia de árvores que nunca hão-de crescer, algumas já secas, esconde-se envergonhado num canto. Será tudo isto resultado da falta de pessoal? Há com certeza falta de gente qualificada ou de quem saiba dirigi-la, mas, tudo somado, vimos umas 20 pessoas a trabalhar: na bilheteira, na vigilância, nos balneários, ou até a varrer as folhas secas do chão.



Pityrogramma calomelanos (L.) Link var. austroamericana (Domin) Farw.


Se o problema da Caldeira Velha fosse a penúria orçamental, talvez o pó dourado que recobre o verso das folhas do Pityrogramma calomelanos pudesse dar uma ajuda. Mas nem tudo o que luz é ouro, e fora dos contos de fadas nenhuma planta é capaz de produzir o metal precioso. Porém, mesmo que não enriqueça quem decida cultivá-lo, este feto neo-tropical, visto por trás ou pela frente, é um dos mais bonitos que conhecemos. Originário da América Central e do Sul, a sua beleza serviu-lhe de passaporte para muitas regiões tropicais e subtropicais da África, Ásia e Oceania, onde conseguiu naturalizar-se com maior ou menor sucesso. Na África do Sul, por exemplo, frequenta bermas de estrada e outros sítios perturbados e mais ou menos pedregosos na metade leste do país, em geral na proximidade de lugares habitados, não se esperando que venha a ter comportamento invasor problemático. Já na Ásia e em certas ilhas do Pacífico ele não parece ter usado de igual parcimónia, e as notícias são bem menos optimistas. Nos Açores, onde está assinalado desde 1907, foi até hoje visto em São Miguel, Faial e Terceira, mas permanece muito raro e talvez já não exista no Faial. As temperaturas moderadas do arquipélago não devem ser favoráveis à disseminação de um feto que preferirá ambientes mais cálidos. Na Caldeira Velha instalou-se junto à fonte de água quente, sobre um solo borbulhante e instável que parece a tampa de uma panela de pressão, e por entre os vapores de enxofre que nos coçam o nariz e embaciam a vista.

O Pityrogramma calomelanos é um feto de tamanho médio. As suas frondes arqueadas, que se dispõem em tufos, têm pecíolo negro, comprido, e lâminas foliares bipinadas, de formato lanceolado, com uns 40 cm de comprimento máximo (no seu continente de origem é capaz de duplicar esta marca). A sua elegância e simetria, ajudadas pela cor verde brilhante, são irrepreensíveis.

Pityrogramma ebenea (L.) Proctor
Oriundo também da América tropical, mas de presença reportada só em 1993, está naturalizado em São Miguel um outro feto do género Pityrogramma. Trata-se do P. ebenea, menos prendado do que o seu conterrâneo, com frondes desenhadas a traço mais grosso, o pó de talco (que não é talco) fazendo as vezes do pó de ouro (que não é ouro). Mesmo sem lhe espreitarmos o verso das pínulas para conferir a cor, podemos notar que as pinas têm um remate rombudo em vez de pontiagudo, e que as pinas superiores são perpendiculares à ráquis, enquanto que no P. calomelanos elas fazem com esta um ângulo agudo.

Ao contrário do P. calomelanos, o P. ebenea, que é algo maior do que o seu congénere, não parece buscar só ambientes de sauna. Vimo-lo em dois pontos a caminho da lagoa do Fogo, e é de supor que a sua expansão em São Miguel esteja apenas no início.

08/10/2016

Salsifis

As plantas do género Tragopogon têm inúmeras designações populares graças ao seu uso em culinária. Comecemos pelas de língua inglesa. O nome do género (do grego tragos, bode, e pogon, barba, em alusão ao enorme fruto com penachos cedosos) terá sugerido ou sido escolhido a partir de goatsbeard. Mas como as flores se fecham ao meio-dia, jack-go-to-bed-at-noon é também uma alcunha que lhes atribuem. Porém, é muito mais vulgar ouvir-se tratá-las por salsify, a que se acrescenta um qualificativo (common, meadow, western, wild, woolly, pasture, yellow, purple) para se distinguirem as várias espécies. Procurámos num dicionário a etimologia desta palavra, mas sem sucesso, pois lemos que deriva do francês salsifis ou do italiano salsefica, ambos de origem desconhecida. Certo é que o género é comum em alguns locais na Europa e Ásia, onde ainda se cultiva para se consumirem as longas raízes (que, dizem os entendidos, sabem a ostra), os talos, as folhas finas como relva, a seiva leitosa, as flores ou as sementes. No livro Portugal Botânico de A a Z (de Francisca M. Fernandes e Luís M. Carvalho), a designação vernácula adoptada para as espécies de Tragopogon aí listadas é cersefi, palavra que soa a uma variante fonética de salsify. Curiosamente, o nome salsifi é reservado nessa obra para a Scorzonera hispanica, de cujas raízes (com casca escura e miolo branco) cristalizadas se faz (ou fazia) no Alentejo uma guloseima, conhecida como escorcioneira, que mereceu a distinção de constar na Ark of Taste, uma versão da arca de Noé para alimentos bem concebidos e realmente saborosos.


Tragopogon porrifolius L.



Vimos o T. porrifolius em Maio junto a Alcobaça, com a ajuda do João Gomes. As hastes florais são altas de um metro e meio, e as flores (ainda as vimos abertas, era de manhã) medem uns 5 cm de diâmetro.


Tragopogon crocifolius L.


Tragopogon dubius Scop.
Estas duas outras espécies têm porte mais modesto e foram fotografadas em Junho, numa berma de estrada junto a um prado em Macedo de Cavaleiros forrado de orquídeas, galocristas e rainhas-dos-prados. Como se pode ver, a cor das flores neste género varia bastante. Os botânicos que as estudam asseguram que as espécies de Tragopogon hibridam com facilidade, havendo reconhecimento recente de novas espécies na natureza, poliplóides para poderem ser férteis, originadas por cruzamento espontâneo entre T. dubius e T. porrifolius, ou entre T. dubius e T. pratensis.

04/10/2016

Lagoas & patalugos


Lagoa do Fogo, ilha de São Miguel
Completámos este Verão a ronda de visitas botânicas aos Açores que iniciámos em 2010. Ao longo destes anos, estivemos pelo menos uma semana em cada ilha, e a quatro delas (Terceira, Flores, Pico e São Jorge) voltámos repetidas vezes em diferentes períodos do ano. Não sendo nós botânicos profissionais, seria inapropriado dizer que foram visitas de trabalho, mas a exploração botânica serviu-nos de pretexto para as férias activas de que gostamos. Esse não-trabalho teve como resultado visível os cento e tantos textos sobre os Açores e a sua flora que aqui publicámos, e o lançamento (ainda a meio-gás) do portal Flora-On Açores, iniciativa da Sociedade Portuguesa de Botânica de que somos colaboradores empenhados. Porque seria presunção achar que já lhe conhecemos todos os cantos, continuaremos a visitar o arquipélago. Move-nos também o impulso de regressar aos lugares onde nos sentimos bem.

São Miguel foi a última ilha do nosso roteiro botânico. Dirão alguns que deixámos o melhor para o fim, mas não foi essa a impressão com que ficámos. Mais do que qualquer outra ilha açoriana, São Miguel vive um paradoxo: faz do turismo de natureza o seu cartaz, mas sobra nela muito pouco (ou mesmo nada) da natureza virginal que os visitantes imaginam lá existir. As cerradas plantações de criptómerias, as ondulantes pastagens, a proliferação descontrolada de invasoras como o incenso, a hortênsia e a conteira — tudo isso remeteu a vegetação natural à invisibilidade, fazendo-a regredir a um ponto de não retorno. Só no Pico do Vara e em alguns cumes em volta da lagoa do Fogo pudemos reencontrar, em versões empobrecidas, as florestas húmidas de juníperos e de louros que aprendemos a amar noutras ilhas.

Para minimizar o desgosto, talvez tivesse sido melhor conformarmo-nos ao papel de turistas que vêm para admirar as vistas. Ainda que saibamos como o verde que as rodeia é tantas vezes adulterado, as lagoas de São Miguel são mesmo de encher o olho. Mas, se mudarmos abruptamente de escala e começarmos a esquadrinhar as plantas herbáceas, reconhecemos, algo inesperadamente, que não foram poucas as plantas nativas (ou mesmo endémicas) que conseguiram adaptar-se a habitats dominados por espécies exóticas. Orquídeas como a Platanthera pollostantha são frequentes, nas partes altas da ilha, em matas de criptomérias e em taludes de estrada, e quase sempre lhes fazem companhia duas asteráceas endémicas de floração estival: uma leituga (Tolpis azorica) e um patalugo (Leontodon rigens).




Leontodon rigens (Aiton) Paiva & Ormonde


Os patalugos (nome que se dá às espécies açorianas do género Leontodon) apresentam-se em duas versões, ambas já aqui mostradas: o patalugo-maior e o patalugo-menor. É mentira que o primeiro seja maior do que o segundo. A diferença mais evidente é que o patalugo-menor (nas fotos) tem inflorescências abundantes, formadas por várias dezenas de capítulos, enquanto que o patalugo-maior as tem esparsas, com um máximo de meia dúzia de capítulos por haste. Há ainda um importante critério geográfico, só recentemente clarificado, que se resume a isto: em nenhuma ilha do arquipélago os dois patalugos coexistem. O patalugo-maior é exclusivo do grupo central, e o patalugo-menor fica-se por São Miguel, Flores e Corvo. (Notícias antigas sobre a ocorrência do patalugo-maior nas Flores e em São Miguel são equivocadas, pois referem-se a híbridos do patalugo-menor com o Leontodon taraxacoides, uma espécie ruderal muito disseminada no continente e nas ilhas.)

No mesmo artigo (disponível aqui) em que põem em ordem a distribuição dos patalugos pelas diferentes ilhas, os autores (Mónica Moura, Luís Silva, Elisabete F. Dias, Hanno Schaefer, Mark Carine) concluem que afinal há dois patalugos-menores, pois as plantas de São Miguel não são iguais às do grupo ocidental (Flores e Corvo). Estas últimas passam a chamar-se Leontodon hochstetteri, e o nome Leontodon rigens fica reservado à espécie de São Miguel. É verdade, trata-se de um endemismo de uma ilha só. Felizmente não é nada raro: quem em Agosto percorrer as cercanias da lagoa das Sete Cidades ou da lagoa do Fogo, ou subir ao Pico da Varra ou à serra da Tronqueira, não deixará de avistar grandes e floridas populações empoleiradas nas bermas das estradas ou em ladeiras íngremes.

Para além das divergências genéticas apontadas no artigo, que diferenças visíveis há entre o Leontodon rigens e o agora chamado Leontodon hochstetteri? Como muito bem assinalam os autores, os capítulos do Leontodon hochstetteri têm pedúnculos curtos, e por isso a inflorescência é compacta, arredondada, em forma de umbela (fotos aqui). No L. rigens, pelo contrário, os pedúnculos são compridos (última foto acima), resultando daí uma inflorescência mais ampla e achatada (o termo técnico é corimbosa).

Não conseguimos decidir qual das duas variantes é mais bonita. Mas, como testemunham as imagens, o patalugo de São Miguel gosta, tal como nós, de contemplar lagoas, e temos que lhe agradecer por nos tornar essa contemplação menos frustrante.