19/05/2010

Verónica em duas versões

Veronica chamaedrys L.

Veronica cymbalaria Bodard
As verónicas, que têm nome de santa, estão no centro de uma guerra. Há quem considere que a terra cultivada só deve produzir aquilo que o homem semeia. Flores fora do jardim caem na categoria das ervas daninhas e devem ser erradicadas a todo o custo, quer pelo arranque, quer pelo encharcamento do solo com herbicidas. A terra fértil deve estar ao nosso exclusivo serviço, nem que para isso seja necessário impregná-la de venenos.

Mas as verónicas resistem. Se as expulsam do campo em pousio — onde, ao menor descuido, estendem um vasto tapete azul —, elas encontram refúgio na valeta. Se, em nome de um conceito paranóico de higiene pública, vêm roçar a berma da estrada, já elas fugiram monte acima. Sempre em fuga, sobrevivendo sempre. Está na altura de suspendermos a campanha, por ser inútil e perniciosa, e olharmos com atenção estas florzinhas guerreiras. Coisa que, vem a propósito dizê-lo, devemos fazer em manhã soalheira, pois elas têm o hábito de encerrar o dia de trabalho logo após o almoço.

A Veronica mais comum em terrenos cultivados, pelo menos no noroeste do país, é a V. persica, que foi importada do sudoeste asiático. As duas que partilham hoje a montra, menos fáceis de encontrar, são nativas do território português e de boa parte da Europa, com a V. cymbalaria ficando-se pelo sul do continente e a V. chamaedrys fazendo o pleno da U.E. e dos países adjacentes. São plantas pequeninas: as flores da V. chamaedrys não ultrapassam os 12 mm de diâmetro, as da V. cymbalaria são ainda menores. Como preferem habitats distintos — prados e bosques para a primeira, terrenos pedregosos e fendas de rochas para a segunda —, a probabilidade de alguma vez se encontrarem na natureza é reduzida. Mas é também para promover tais improváveis tête-à-têtes que este blogue existe.

1 comentário :

Moi-même disse...

Belíssimas, como belo é o vosso Blog. Já o frequento há bastante tempo e quando há uns anos interromperam a sua publicação, senti uma enorme nostalgia!
Ainda bem que existem!