18/11/2010

Espigos-de-cedro



Arceuthobium azoricum Wiens & F. G. Hawksworth

Tal como sucede com todas as coníferas, os cedros-do-monte (que não são cedros, mas sim juníperos) não dão flores. Causa assim certa estranheza que no verde de algumas copas sobressaiam manchas douradas. Serão folhas amarelecidas pelo Outono, mesmo sendo estas árvores de folhagem perene? Ou será que alguma doença as atacou? Em certo sentido, elas foram vítimas de um ataque, mas é melhor inspeccionarmos o fenómeno de perto. Rapidamente concluímos que o amarelo não pertence aos juníperos, mas sim a umas plantas quase alienígenas que a eles se agarraram. Além de não terem folhas que se vejam, as suas hastes parecem formadas por peças cilíndricas arbitrariamente encaixadas umas nas outras, com as peças terminais rematadas por flores sumárias. O défice de clorofila denunciado pela cor amarela e a posição comprometedora em que se encontram não permitem dúvidas sobre a índole parasita destas plantas.

Em rigor, o Arceuthobium azoricum (ou espigos-de-cedro, como lhe chamam nos Açores) não é inteiramente parasita, uma vez que possui alguma clorofila; por isso se diz hemiparasita. Mas, como a sua concentração de clorofila é cerca de um décimo daquela que se encontra na folhagem verde de uma planta normal, ela é muito pouco eficiente na fotossíntese. Se quiséssemos ser picuinhas, diríamos que hemiparasita, ao indicar um grau de dependência do hospedeiro da ordem dos 50% (o prefixo grego hemi significa metade), é uma qualificação enganadora; tal dependência, medida na importância para a sua dieta dos nutrientes subtraídos à vítima, andará acima dos 90%, e por isso é indiscutível que parasita representa uma aproximação mais satisfatória.

Os espigos-de-cedro recusam-se, naturalmente, a parasitar outras plantas que não os cedros-do-monte. Como tal hospedeiro só existe nos Açores, também o hóspede está impossibilitado de se aventurar fora das ilhas. De facto, o Arceuthobium azoricum só ocorre nas maiores populações de Juniperus brevifolia no grupo central do arquipélago; e, em geral, coloniza poucas árvores em cada população. Encontrá-lo é prova de que chegámos a um sítio especial.

Erik Sjögren, no seu livro Plants & flowers of the Azores (Os Montanheiros, 2001; edição trilingue), afirma que as árvores infectadas pelos espigos parecem nada sofrer com o ataque. Talvez essa inocuidade se deva à razão elementar de que o agressor nunca poderia sobreviver à morte da vítima. Num ecossistema tão circunscrito como é o de uma pequena ilha, uma relação parasitária mais nociva teria há muito terminado com a extinção de ambas as espécies. Mas num continente como a América do Norte um tal equilíbrio já não é essencial. Aí, entre as quase 40 espécies de Arceuthobium, há uma que em poucos anos é mortífera para os espruces (Picea mariana, P. glauca, etc.) onde se costuma alojar: trata-se do A. pusillum, conhecido como dwarf mistletoe (ou visco-anão). Curiosamente, é uma planta quase invisível, pois as suas hastes, que em geral não são ramificadas, não ultrapassam os 2 cm de comprimento. As árvores atacadas desenvolvem uma copa irregular, com a folhagem concentrada em tufos: nesta página, por exemplo, pode ver-se uma árvore morta e outra a que já pouca vida resta.

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