Eufórbia almendrada
Em Portugal, a jardinagem, uma arte que nunca teve muitos entusiastas, encontra-se ameaçada de extinção. Nos escassos jardins públicos temos árvores rodeadas por relvados de recorte mais ou menos geométrico; nos melhores casos, há ainda os canteiros onde as flores sazonais são regularmente substituídas. Mas falta diversidade, falta cor, e só as árvores que se despem e vestem dão notícia do passar das estações. Os jardins particulares, aqueles que não se resumem a uma palmeira enfeitando uma alcatifa suspeitosamente verde, abastecem-se sem critério das últimas novidades holandesas no garden center.
Sem uma tradição continuada, sem ter criado raízes na nossa cultura, é de esperar que a pouca jardinagem por cá praticada não tenha registado grande evolução conceptual desde o século XIX. Tal como nessa época, as plantas nativas são desprezadas em favor das espécies exóticas. Além da melhor adaptação ao nosso clima, com a consequente poupança em rega e outros cuidados, as nossas plantas, afinal tão bonitas como quaisquer outras, poderiam dar personalidade aos nossos jardins. Numa época em que é tão fácil viajar, o melhor incentivo para visitar um local é o que ele tem de único e genuíno. Os jardins das nossas cidades, que hoje em dia só são originais pelo desmazelo e falta de gosto, poderiam atrair forasteiros se ostentassem uma boa amostra de plantas nativas.
Este triste panorama geral é contrariado por um número crescente de excepções. Por exemplo, existe no Douro um jardim autóctone, de que só tenho conhecimento virtual, onde todas as plantas foram adquiridas a custo zero em bermas de estrada, charcos e outros lugares desprezados. Oxalá o exemplo frutifique. Melhor ainda seria (como faz a empresa Sigmetum) que os centros de jardinagem propagassem essas mesmas plantas e as pusessem à venda a um público conhecedor.
A eufórbia de hoje pertence àquele grupo de plantas da nossa flora que nós não cultivamos mas que, graças às suas qualidades ornamentais, frequentam hortos e jardins de outros países. O que faz a diferença da Euphorbia amygdaloides é a sua bonita folhagem escura (que Lineu terá considerado semelhante à da amendoeira, e daí o epíteto amygdaloides) e a sua silhueta elegante, com hastes vermelhas de cerca de 90 cm rematadas por inflorescências alongadas. É uma planta perene, com rizoma lenhoso e rastejante, que vive em lugares sombrios perto de linhas de água, e que é mais frequente no norte do país. A planta das fotos morava na orla de um lameiro minhoto, fazendo companhia a uma das maiores populações portuguesas de narciso-trombeta.