04/01/2005

"Ó ciranda, ó cirandinha..."

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«Já nas crenças micénico-cretenses, precisamente em Micenas e na cretense cidade de Knossos, no segundo milénio antes de Cristo, a palmeira e a oliveira eram as árvores frutíferas dedicadas aos homens pelos deuses. Eram assim as árvores sagradas, e, por tal circunstância, tinham nos templos lugares em recintos especiais.
Ainda hoje o nosso povo canta que a oliveira é benta, e ramo dela dá virtude! Exprime assim o benefício da ramaria, que dá o azeite, antecipado pela promessa e pelo prestígio de esperanças da azeitona, origem do Azeite. Desde esta promessa natural até à promessa espiritual , corre, como um arco-íris anunciador e cumpridor, o culto da árvore milagrosa e das poderosas forças celestes, que a protegem e garantem ao homem.
(...)
Diz adágio antigo que tudo "vem a seu tempo, e os nabos no Advento". Pois assim acontece com a azeitona, que chega e se apronta para o lagar em "seu tempo".
(...)
A colheita da Azeitona, já no período invernal, pode ter por símbolo próprio a "ciranda", "seranda", "siranda", e até "giranda". A "apanha da azeitona" tem paisagem sua, quer nas almas, quer na natureza, e nos costumes populares com a sua virtualidade folclórica.
O frio intenso do Inverno, a humidade gélida, o nevoeiro nos olivais, quantas vezes a neve teimosa, a ventania rude, no panorama nu da natureza temporã... O ambiente pelo caminho e no "campo da azeitona" obrigam mulheres e homens, os "varejadores" e as "apanhadeiras", a cobrirem-se de resguardos fortes, mais ou menos pitorescos. Ranchos cantam a "ciranda" e marcham.
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-Ó ciranda, ó cirandinha,
Vamos nós a cirandar...
Lá no campo da azeitona
Anda a ciranda no ar!
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Anda a ciranda no ar,
Anda a ciranda no chão!
Ó ciranda, ó cirandinha.
Amor do meu coração!
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Amor do meu coração!
Não há palavra mais doce.
Quer tu me queiras, quer não,
Gosto de ti! Acabou-se. (...)»
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CHAVES, Luís -O Perfil Espiritual da Oliveira na Poesia Popular Portuguesa."Boletim", nº 78- ano XXIV,1969.15 p. Sep. da Junta Nacional do Azeite.
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Outra versão da Ciranda, cirandinha com música
(Nas páginas de Domingos Morais alojadas no Alfarrábio)
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5 comentários :

Torquato da Luz disse...

"A azeitona já está preta/ já se poder armar aos tordos (...)". A Manuela conhece, com certeza. O "Dias com árvores" continua a surpreender-me e a deliciar-me. Beijos!

ManuelaDLRamos disse...

Conheço com o loureiro:
'Já o loureiro tem baga,
Já se pode armar aos tordos;
Diga-me, ó minha menina,
Como vai de amores novos?'
mas não com a azeitona! Como é?

Anónimo disse...

e já que estamos numa de oliveiras e azeitonas, vai uma alcaparra?

vitorsilva

Torquato da Luz disse...

Não conhecia com o loureiro, mas é mesma cantiga popular. Também gosto de alcaparras, ora essa! Outro beijinho!

António Viriato disse...

Já agora acrescento o resto, como é de uso ouvir cá mais para o sul :

É mentira, é mentira,
É mentira, sim, senhor,
Eu nunca pedi um beijo,
Quem mo deu foi meu amor.

Muito grato ao Dias com Árvores, pelas canções genuinamente populares citadas, que urge ensinar à actual juventude, em particular àquela que vai aos concursos da TV, que, estranhamente, quase só sabe cantar em inglês. Onde nos levará este pretenso sentimento de superioridade de povo poliglota, de que muitos portugueses se deixaram tomar ? Os mesmos que cada vez menos dão mostras de conhecer a sua/nossa própria língua ! Ai Portugal, Portugal... tão cosmopolita que tu andas, mas tão esquecido do que deves ao teu terrunho... !