Pão silvestre
Fotos: pva 0412 - Araucaria araucana - Águas Santas (Maia)
A araucária das fotos é um exemplar jovem, de copa com formato piramidal típico, de uma das espécies mais raras no país, resultado de uma preferência de longa data pela Araucaria heterophylla (antes chamada excelsa) e, mais a norte, pela A. angustifolia. A propósito, escreve Duarte de Oliveira Júnior, em 1873, no Jornal de Horticultura Prática: «É esta uma das espécies mais ornamentais e, segundo a nossa opinião, excede em beleza a Araucaria excelsa, que aliás é a predilecta de muitos horticultores que nos acusarão de profanos, proferindo tal sentença. A sua rusticidade e a sua beleza como árvore ornamental deveriam assegurar a esta planta uma propagação rápida no nosso país.» E mais adiante: «A Araucaria excelsa é por certo bonita e o seu garbo é o que mais nos seduz. A Araucaria imbricata não é elegante, mas tem um porte austero e como que nobre. Só temos notícia de um exemplar que mereça ser assinalado. Pertence esse indivíduo ao sr. Chistiano Van-Zeller e está disposto na sua quinta de Villar (Porto). É um belíssimo espécime: mede de treze a quatorze metros e os verticilos estão dispostos com a maior regularidade possível, parecendo mais obra do homem do que da natureza. Como se a natureza não fosse mais caprichosa que a imaginação do homem!» [O exemplar aqui mencionado já não existe, pois a Quinta de Villar há muito que desapareceu.]
Da família Araucariaceae (que tem três géneros, Araucaria, Agathis e Wollemia), nativa da cordilheira andina partilhada pelo Chile e pela Argentina, a Araucaria araucana (antes imbricata) é uma conífera que gosta de frio, de crescimento lento e folha perene. As folhas têm cerca de 3 cm de comprimento, são rijas, de cor verde escuro brilhante, lanceoladas e muito ponteagudas, espiralando densamente em torno dos ramos. Estes dispõem-se no tronco como raios de um círculo, dando à copa da árvore adulta, que tem o tronco inferior despido, uma forma que lembra um guarda-chuva - imponente quando a árvore supera os 30 metros de altura. As sementes, produzidas em grande profusão mas só em exemplares com mais de 20 anos, são como amêndoas com o dobro do tamanho, comestíveis e muito apreciadas até em farinha, de importância comercial comparável à das tâmaras ou dos cocos. Esta é uma espécie dióica e as árvores femininas podem exibir mais de vinte cones, recheados de pinhões saborosos, por ramo. Assegura Duarte de Oliveira Júnior: «A quantidade de sementes que produz cada árvore feminina excede o que se imagina, e não se exagerará afirmando que os índios da região Araucariana estão completamente livres de passar fome.»
No Chile, onde ainda hoje há extensos povoamentos desta espécie, a Araucaria araucana é monumento nacional desde 1990. O nome alude aos índios pehuenche, da tribo mapuche, que vivem na Araucania e cuja oposição corajosa à ocupação espanhola é cantada por Pablo Neruda na Ode à Araucaria araucana.
Esta araucária chegou à Europa no século XVIII com o cognome monkey puzzle (ou désespoir des singes), fonte de alguns mal-entendidos. O termo teria sido sugerido aos europeus por um comentário sobre a aspereza da folhagem, que dificultaria a escalada aos macacos... afinal inexistentes na região de origem desta árvore.
1 comentário :
Que bem, e tanto, vocês ensinam! Abraços
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