07/01/2005

Os nomes das árvores - Romãzeira

.A romãzeira ou romeira (Punica granatum L.) é uma pequena árvore de tendência arbustiva com uma enorme resistência a condições de seca, apreciada tanto pelas flores como pelos frutos. Estes adornam tradicionalmente as nossas mesas nesta altura do ano com a sua coroa perfeita e interior deslumbrante. Associadas a votos de ano afortunado, em certas famílias há ainda o costume de, no dia dos Reis, partilhar romãs para que durante o resto do ano não falte sorte nem dinheiro. "Bagalhos" e "bagulhos" são aliás designações regionais e populares para os "bagos" da romã e para o dinheiro.

Quase toda a simbologia popular e erudita associada à romã - abundância, fertilidade, união - está relacionada com a opulência das suas sementes. Característica morfológica que também determina a designação da romãzeira na maior parte das línguas europeias e está patente no seu nome científico, Punica granatum, em que o último termo, designativo da espécie, significa "abundante em grãos".

Em português, sinónimos de romã, temos os regionalismos "milgrada, milgrã e milgranada", «de mil grãos ou mil sementes, onde mil significa número indefinido» como explica o grande etnólogo e filólogo José Leite de Vasconcelos. Igualmente se encontra o étimo latino relativo a "grãos", no granada espanhol e no grenade francês, verificando-se para além disso, a presença de elementos que significam "maçã", "pomo", por exemplo em inglês, pomegranate, alemão, granatapfel e italiano, melograne.
Neste último, transparece uma das denominações usadas pelo romanos para a romãzeira, malum granatum, em que "malum" (do gr. melon; dórico mâlon) é um termo genérico que muitas vezes serve para referir tudo o que se assemelhe a maçãs.

Plínio, o grande naturalista romano do séc. I da nossa era, denominou-a malum punicum. Esta última palavra deriva de "poeni" (do gr. phoenikes) nome que os romanos davam aos habitantes da cidade fundada pelos fenícios no séc. IX a.C. no Norte de África, e exprime a ideia "de Cartago"; pode também significar "vermelho, da cor da púrpura", a famosa púrpura de Tiro (substância corante proveniente de uma glândula de um gastrópode marinho do género Murex) que os fenícios comercializaram.
Punica granatum, o nome científico instituído por Lineu, baseou-se aparentemente nas duas denominações criadas pelos romanos, e mesmo sem ser deliberadamente, presta homenagem aos fenícios pois terão sido estes a introduzir a romã no ocidente trazendo-a da Ásia Menor onde há muito era apreciada.

O género Punica compreende apenas duas espécies: a P. protopunica que só se encontra na ilha de Socotorá (Iémen) e a P. granatum de que estamos a falar. Esta, oriunda de uma zona que se estende do sul do Cáucaso ao norte da Índia passando pelo Irão (antiga Pérsia), é um dos frutos de que se conhecem testemunhos mais antigos. Aparece, por exemplo, representada no túmulo do faraó Ramsés IV (séc. XII a.C.) e, é interessante notar, dada a sua importância na simbologia do judaismo, que a única relíquia recuperada do chamado primeiro templo de Jerusalem é uma pequena romã em marfim do séc. VI a.C.. Em hebraico diz-se "rimon", e "ruman" é o termo árabe equivalente de onde parece derivar o nosso romã. (o nome da romã noutros idiomas)
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