05/01/2005

Eucalipto com aroma de limão



Fotos: pva 0412 - Eucalyptus citriodora no Parque de S. Roque e na Rua de Entre-Quintas

Associado à destruição da paisagem natural portuguesa para benefício de uma das nossas mais prósperas indústrias, o eucalipto não goza por cá de boa fama. Fornecendo, em poucos anos, larga safra de matéria prima para a indústria do papel, o seu plantio em larga escala, expulsando espécies autóctones ou ocupando antigos campos agrícolas, é uma das razões mais óbvias para a degradação ambiental do nosso país: empobrecimento de solos, secagem de cursos de água, perda de bio-diversidade, risco exacerbado de incêndios.

Feito o necessário preâmbulo de acusação, passamos a aduzir as razões da defesa. O eucalipto, usado com moderação, não é uma árvore nociva: se agora se vê por todo o lado é porque lá o plantaram, pois ele não é entre nós, e ao contrário da acácia, uma árvore invasora. Um eucalipto em plena maturidade é um prodígio da natureza: possante e esbelto, erguendo-se numa urgência de tocar o céu; o seu aroma é dos mais agradáveis que se conhecem; e com os seus frutos podem fazer-se bonitos colares. É por isso incompreensível que, numa fúria purificadora como a que nos últimos meses varreu o Parque Biológico de Gaia, se queira de um só golpe erradicá-lo de locais onde a sua presença é comedida e perfeitamente integrada na paisagem, abrindo clareiras áridas que levarão muitos anos a rearborizar.

Mas há eucaliptos e eucaliptos: o que ocupa Portugal de norte a sul é o Eucalyptus globulus, originário da Tasmânia e de uma pequena faixa costeira no sudeste australiano; mas o género Eucalyptus - que, com excepção de dezena e meia de espécies na Nova Guiné, Filipinas e Timor, é exclusivo da Austrália - conta com mais de 500 espécies perenifólias, muito diversificadas quer no tamanho (de pequenos arbustos a algumas das maiores árvores à face da Terra), quer na forma, quer na textura do tronco (que pode ser liso, ou rugoso, ou sulcado, ou descascar-se em longas tiras). O que há de comum a todas as espécies é o tipo de flor, com um tufo de estames a emergir de uma espécie de cálice, e a morfologia variável das folhas, em geral mais rombudas e encurtadas quando jovens.

Além do Eucalyptus ficifolia, notável pela beleza da sua floração, outros eucaliptos há que são valorizados pelas suas qualidades ornamentais. O que hoje aqui trazemos provém, como a Araucaria bidwillii, a Agathis robusta e a Macadamia integrifolia, de Queensland, no nordeste da Austrália: é o Eucalyptus citriodora, que exibe um tronco liso, de cor leitosa, uma copa aberta e de folhagem esparsa, e pode atingir alturas até 50 metros. Mas a característica que mais facilmente o diferencia dos outros eucaliptos é o intenso aroma a limão que as folhas exalam quando esmagadas. (Não arranque folhas da árvore para fazer a experiência: aproveite alguma que esteja caída!)

O mais bonito Eucalyptus citriodora que vimos em Portugal está no Jardim Botânico de Coimbra, num dos canteiros no limite poente do jardim, perto da entrada principal. Um outro mora em Angra do Heroísmo, no patamar inferior do Jardim Duque da Terceira. Finalmente, no Porto, conhecemos só os dois que acima mostramos: um adulto no Parque de S. Roque e um jovem à entrada da rua de Entre-Quintas, atrás da Biblioteca Almeida Garrett. Apesar de curta, a vida deste eucalipto tem sido atribulada: a certa altura uma golpe de vento quebrou-lhe a copa, deixando-o reduzido a um pau; milagrosamente, do pau foram brotando folhas e ramos, e a copa acabou por se reconstituir; mas a árvore ressuscitada é sujeita à tortura diária dos encontrões por carros em manobras de estacionamento, e o seu tronco apresenta profundas feridas. Custaria muito aos serviços da Câmara protegê-la com uma cerca?

5 comentários :

João Soares disse...

Será que os condutores confundem árvores com um poste?
Bom ano a todos!

Anónimo disse...

ainda esta tarde me detive num portentoso eucalipto que domina o jardim de uma casa ali mesmo ao lado do horroso centro comercial do bom sucesso.

Carla de Elsinore disse...

não é anónimo, sou eu

Elvira disse...

Sou há pouco tempo residente na ilha Terceira. Deram-me umas ramas caídas desse que está localizado em Angra do Heroísmo.

Não só é lindo como tem verdadeiramente um aroma de limão. E é muito bom para chá. :-)

Anónimo disse...

Há um outro exemplar, imponente e devidamente protegido, no campo de Tiro da Força Aérea em Alcochete.