29/10/2009

Dance the orange*



Pistacia lentiscus L.

Alguns dos instrumentos musicais mais célebres foram fabricados em Cremona, terra de Monteverdi nas margens do rio Pó, mas o segredo dos Amati, de Guarneri ou de Stradivari perdeu-se a meio do século XVIII. Poucos dados sobram para contar a história dos preciosos Stradivarius para além de uns poucos violinos cor de laranja, de pele tigrada, com nome próprio como se fossem gente e dotados de um som que nenhum outro imita. Reconhece-se hoje que a madeira escolhida por este luthier era excepcionalmente uniforme, com anéis de Inverno e Verão de largura quase idêntica; que a arquitectura era inovadora, sobretudo a curvatura da caixa e do arco, a largura da ponte, o enrolamento da voluta, as medidas precisas das componentes mais finas em madeira; e que a fórmula bem guardada do verniz, protegendo e isolando devidamente o instrumento, foi essencial à fama. Uma vez que nenhum proprietário-coleccionador permite que, a bem da ciência, se destrua objecto de tão grande estima, resta aos obcecados com o mistério especular sobre a origem do verniz. Ainda que Antonio Stardivari, como se crê, não se restringisse a uma receita, adaptando-se antes às necessidades de cada instrumento, entre os possíveis fornecedores dos ingredientes secretos (além do dragoeiro, Dracaena draco, e da ruiva, Rubia tinctorum) conta-se o lentisco, planta lenhosa de cuja seiva se produz o mástique, uma resina cor de limão de aroma adocicado que também se utiliza em odontologia.

Arbusto perene de terras pedregosas ou bosques em Marrocos, Ilhas Canárias e Sul da Europa até à Grécia, o lentisco tem folhas pinadas com cerca de 10cm de comprimento, dotadas de pecíolo alado e desprovidas de folíolo terminal - duas características que o diferenciam do terebinto. Como todas as pistácias, o lentisco é dióico; não temos ainda fotos de flores femininas, mas, entre Março e Maio, o lentisco enfeita-se de panículas de cerca de 3cm com flores de anteras rubras (masculinas, as da foto à esquerda), ou de outras maiores (6cm), mas menos densas, com flores femininas castanho-esverdeadas. Nestes pés, seguem-se bagas vermelhas de uns 6mm que escurecem ao amadurecer e são comestíveis (mas não as provámos). Tal como no terebinto, é comum a presença de bugalhos, que nesta espécie nascem na face superior dos folíolos.

*Rainer Maria Rilke

P.S. A Gi, sempre atenta, avisou-nos hoje (04.12.09) que há novidades: «Maria, parece que Antonio Stradivari terá usado carmim de cochinilha no verniz que punha nos seus violinos: ver aqui

1 comentário :

Pedro PM disse...

Um post que foi música para os meus ouvidos.