21/10/2009

À sombra duma azinheira



Quercus rotundifolia Lam. - Santuário de Fátima

Duzentos quilómetros para sul na A1 e ainda estamos aquém Tejo, mas Fátima é terra de azinheiras, tanto como as planícies do além (Tejo). E muito mais gente se senta à sombra delas neste centro de peregrinação do que em Grândola, vila morena da cantiga revolucionária. A lição a reter é que a árvore não tem cor política nem credo religioso: comunista ou latifundiário, ateu ou devoto, a todos abriga a azinheira que já nem sabia a idade.

A azinheira grande, testemunha das aparições de 1917, ocupa, no recinto do santuário, o centro de um grande canteiro circular, delimitado por um muro com sebe e gradeamento. Não lhe falta terra viva para o sustento, e a impossibilidade de os peregrinos lhe tocarem salvou-a de ser depenada por caçadores de relíquias, como sucedeu à azinheira em que Nossa Senhora teria pousado. Essa distância de segurança talvez impeça que, em sentido estrito, as pessoas se sentem à sua sombra: é preciso escolher o lado certo e esperar que o sol esteja baixo. Mas a árvore, que foi classificada de interesse público em 2007, ressuma história, e a sua simples proximidade já é acolhedora.

Na envolvência do santuário há muitas mais azinheiras - e dessas, por não terem tido comércio com o sagrado, toda a gente pode chegar perto. É lá que famílias inteiras, desempacotando os farnéis, abancam para os piqueniques. As oliveiras, árvores de prestígio bíblico mas de mais escassa sombra, alinham-se em extensas plantações. Duas grandes alamedas de ciprestes-do-Buçaco ladeiam o recinto. Por todo o lado há lugares sentados protegidos pelas copas das árvores.

Mesmo para quem, como eu, não partilha a religiosidade que atrai multidões a Fátima, é impossível não reconhecer a grandiosidade e a excelência arquitectónica deste lugar. Uma grandiosidade onde a brancura da pedra é atenuada pelo verde, e que não é fria nem inóspita, pois foi pensada para confortar, e não apenas para impressionar, quem a ela se acolhe.

P.S. Pode ler aqui excertos dum texto de Fernando Catarino sobre a azinheira grande.

1 comentário :

Gi disse...

Explicava-me o meu amigo D como se distingue um sobreiro de uma azinheira:
Abanam-se as árvores. Se caírem bolotas, é sobreiro. Se caírem nossas senhoras, é azinheira.