01/07/2010

Uma casa na pradaria


Melampyrum pratense L.

As flores, apesar de discretamente abertas como quem segura um "Hã?" na ponta da língua, não deixam dúvidas quanto à vocação parasita desta herbácea anual, por muito hábil que ela seja a disfarçá-la com umas poucas folhas lanceoladas. Semi-parasita nas raízes de árvores ou arbustos, poupa recursos neste meio roubo e garante a bonomia que se concede aos apreciadores do café descafeinado ou do tabaco sem nicotina.

Agrupadas aos pares, as flores, que por vezes são lilases ou amarelas, têm um cálice tubular de bordo recurvado, apoiado em brácteas verdes (a M. nemorosum L. tem-nas azuis), uma corola em funil com a garganta quase fechada (só lá recolhem néctar e pólen os insectos com chips de matrícula válidos) e dois lábios - o superior com formato de capuz, achatado lateralmente e encimado por um bigode, o inferior com 3 lóbulos e uma bossa conspícua. O fruto, com uma a quatro sementes, parece um casulo de larva de formiga - insecto que, iludido, se encarrega de o transportar e disseminar.

Encontrámos a M. pratense em prados do Gerês e do Marão, mas é comum em quase toda a Europa, e alvo de interesse botânico pela variabilidade morfológica que exibe: as flores e a folhagem adaptam-se, em tamanho e feitio, ao clima, aos rigores de altitude, à competição com outras espécies de floração simultânea, ao formato dos polinizadores disponíveis, à diferente necessidade das abelhas em néctar ou pólen para as suas larvas de acordo com a época do ano - e esta espécie, que em geral floresce na Primavera, pode até fazê-lo no Outono.

Lemos que melampyrum deriva do grego melas, escuro, e pyros, trigo, porque as sementes, se misturadas com o trigo, dão ao pão um tom mais escuro. Pode ser, não experimentámos - mas avisamos que o gado evita estas ervas por serem tóxicas para as suas barriguinhas. Já pratense não suscita dúvidas, pois não?

1 comentário :

Américo M.S. Pereira disse...

Como sou de Terras de Bouro e apreciador de "boas caminhadas" pela serra do Gerês, já tinha visto esta planta, mas desconhecia o seu nome e características.
Aproveito para manifestar o apreço pelo V. Blog, quer pela qualidade da informação, quer pelo lado "poético" e bem escrito dos textos que apresentam.