01/10/2010

Azedo e avantajado



Oxalis latifolia Kunth

As campeãs do darwinismo são aquelas plantas que se dão tão bem na luta pela vida que abafam toda a concorrência. Mas nós, em vez de promovermos cerimónias de consagração dessas atletas do mundo vegetal, suspiramos de impotência e de desgosto quando deparamos com elas. Preenchem a paisagem até à saturação e deixamos de ter olhos para lhes admirar a hipotética beleza. Veja-se por exemplo o omnipresente trevo-azedo (Oxalis pes-caprae): na primeira metade de cada ano, com início logo em Janeiro, não há terreno baldio ou jardim desmazelado que esteja a salvo da invasão amarela. Nós até gostamos do amarelo, mas não deste particular amarelo que oblitera todas as demais tonalidades - e que, uma vez instalado, é dificílimo de erradicar. Os perigosos herbicidas, em vez de o beliscarem, até lhe dão uma ajuda: matam as outras plantas e deixam-no sozinho em campo. As raízes produzem bolbilhos de onde saem novos rebentos, e portanto o único modo de debelar uma infestação é remover as plantas por completo.

É preciso, pois, algum esforço de distanciação para apreciar as plantas do género Oxalis. É um género populoso: das cerca de 900 espécies (ou 500, segundo outras fontes), ocorrerão umas vinte na Europa, e desse número só duas, O. corniculata e O. acetocella, são autóctones; as restantes foram introduzidas pelo comércio hortícola e encontram-se naturalizadas. Reconheça-se, contudo, e embora de modo nenhum se recomende o seu cultivo, que nem todas se propagam de modo tão aguerrido como o O. pes-caprae. Depois de já termos mostrado o O. purpurea, sul-africano de origem tal como o O. pes-caprae, trazemos hoje uma planta sul-americana, ficando assim representados no blogue os dois maiores produtores mundiais de espécies de Oxalis.

Que os Oxalis sejam apelidados de trevos - ainda que nada tenham a ver com as leguminosas do género Trifolium - explica-se pelo arranjo das folhas, compostas por três folíolos de recorte mais ou menos cordiforme. São plantas semi-comestíveis: o seu travo azedo deve-se ao ácido oxálico, que é tóxico (prejudicial ao fígado e inibidor da digestão) se consumido em grandes quantidades. Há registo de mortes em rebanhos esfomeados que foram pastar em campos infestados por O. pes-caprae.

O Oxalis latifolia distingue-se pela coloração das flores e principalmente - como aliás assinala o epíteto científico - pelo tamanho das folhas, com os folíolos a atingirem os 10 cm de diâmetro. Floresce de Maio a Setembro e é de ocorrência esporádica em Portugal, onde, à semelhança de quase todos os seus congéneres por cá imigrados, raramente produz sementes e se propaga sobretudo por meios vegetativos. Encontrámos um exemplar solitário debaixo do mesmo viaduto que deu abrigo ao Melilotus albus.

1 comentário :

Francisco Clamote disse...

Obrigado, Paulo, pois fiquei a saber o nome científico do "trevo-de-jardim" (I presume) que anda a infestar a minha horta.