Explicação da flor
Confinados na cidade, temos escrutinado os recantos dos jardins à porta de casa com um desvelo que poderá ser considerado imoderado mas tem efeito terapêutico. Por sorte, em alguns destes espaços finalmente reabertos resistem árvores antigas ainda saudáveis e de porte elegante. Depois dos meses de frio, estão quase todas com a copa ampla a reformosear-se, espreguiçando ramos longos e tortuosos, recheados de folhas viçosas e pequeninas da cor da alface. E os carvalhos estão em flor. Foi ao olharmos com vagar os amentilhos amarelados (espigas de flores masculinas) a pender das axilas das folhas de exemplares de Q. robur que nos apercebemos, não sem um certo embaraço, que afinal nunca tínhamos reparado nos detalhes das flores femininas dos carvalhos. Como desculpa, apenas o facto de elas serem minúsculas (menos de 2 milímetros de diâmetro), de nascerem ao mesmo tempo que as folhas novas, e de surgirem no ápice de uma haste fininha que se perde de vista entre a folhagem e os bugalhos.
O Q. robur, espécie monóica e de folhagem caduca, aprecia o nosso clima atlântico e dá-se especialmente bem em locais frescos com humidade (como o Minho) e solos ricos em substratos ácidos (frequentes no noroeste de Portugal). Se por perto houver gaios, que dizem ser os melhores dispersores das bolotas, então não será surpresa que por ali nasça um bosque frondoso, com uma biodiversidade invejável. Estas são árvores de vida longa, que podem aguardar 40 ou 50 anos antes da primeira floração. Em cada flor feminina, notam-se (mais ou menos) bem os 3 estigmas e o invólucro escamoso e imbricado de cor avermelhada que, conjecturamos (e, tão logo seja possível, confirmaremos), formará o chapéu da bolota.
O autor do género Quercus é Joseph P. Tournefort, mas a nomenclatura é legalmente atribuída a Lineu uma vez que foi ele quem estabeleceu o uso de dois nomes (género e espécie) para se identificarem e distinguirem as plantas. O epíteto específico, robur, quer dizer robusto, de boa consistência, aludindo à qualidade invulgar da madeira destes carvalhos. Se o leitor quiser distinguir o Q. robur das outras espécies de Quercus (o que conseguirá sem esforço pela morfologia das folhas), encontra aqui fotos nítidas de (quase) todos os carvalhos que ocorrem por cá.