13/05/2010

Cruzes e credos



Arabis sadina (Samp.) P. Cout.

.....É contado por Píndaro a este propósito que chegando Alexandre - o Grande - à cidade do filósofo pediu que o levassem até ele pois dele conhecia as ideias e admirava-as. Com a sua imponente comitiva (como lembra Maquiavel: o poder naqueles tempos avaliava-se pela poeira levantada pelos acompanhantes de um homem), Alexandre, o Grande, deparou com Diógenes sentado no chão, exercendo, absorto, a sua preguiça. Depois de uma pausa solene, e saindo do meio dos seus subservientes acompanhantes, Alexandre dirigiu-se a Diógenes e proclamou:
.....- Estás perante o grande Alexandre; o que lhe tens a dizer?
.....Diógenes, o filósofo, olhou para Alexandre, o Grande, e respondeu:
.....- Não se importa de se desviar um pouco. É que me está a tapar o sol.
.....
(...)

.....Descia Mercatore umas pequenas escadas quando deparou com o filósofo, pobremente vestido, sentado no chão, costas contra a parede, a comer lentilhas.
.....Arrogante, mais do que era seu costume, cheio de vaidade pela riqueza que ostentava e pelo estômago farto, Mercatore disse, para Diógenes:
.....- Se tivesses aprendido a bajular o rei, não precisavas de comer lentilhas.
.....E riu-se depois, troçando da pobreza evidenciada por Diógenes. O filósofo, no entanto, olhou-o ainda com maior arrogância e altivez. Já tivera à sua frente Alexandre, o Grande, quem era este, agora? Um simples homem rico?
.....Diógenes respondeu. À letra:
.....- E tu – disse o filósofo – se tivesses aprendido a comer lentilhas, não precisavas de bajular o rei.

.....Gonçalo M. Tavares, Histórias Falsas (Campo das Letras, 2005)

1 comentário :

Carlos P. P. disse...

Interessantíssimo. Obrigado pelo momento e pela fotografia.