14/06/2010

Couve fora da panela


Crambe hispanica L.

Quando encontrarmos o primeiro restaurante que anuncie sopa de couve-bastarda na ementa, para alívio dos que já se fartaram da couve-lombarda, então acreditaremos que certos nomes de plantas, ditos populares, têm realmente origem popular. Até lá, continuaremos a achar que eles são produto da imaginação de botânicos bem intencionados, que gostariam de acreditar que o nosso povo trata as plantas com familiaridade, quando na verdade as ignora. E esse povo versado em morfologia vegetal que existe na imaginação dos cientistas é de tal modo capaz de apreciar as subtis relações entre espécies que até inventou o polissilábico nome de Betónica-da-Alemanha (subespécie-de-Portugal) para uma planta da família das labiadas.

Falávamos porém de couves. Apesar do intróito culinário, e do facto de o nome genérico Crambe ser termo grego para couve, ignoramos se a C. hispanica (a tal couve-bastarda) se pode ou não comer. Já uma sua congénere, a C. maritima (seakale em inglês), ausente da Península Ibérica mas comum nas zonas costeiras do norte da Europa, é ingrediente usual em saladas. Mas, ainda que integrem a mesma família botânica, essas plantas nada têm a ver com as honestíssimas couves, pertencentes ao género Brassica, que consumimos no dia-a-dia.

Única espécie do seu género presente em Portugal, a C. hispanica é uma planta anual com uma distribuição descontínua no nosso país: ocorre no Algarve, na Estremadura, nas Beiras e no Alto Douro. Consta que há marcada diferença entre as populações nortenhas e as meridionais: as primeiras são geralmente glabras, e as segundas, mais típicas das regiões litorais, estão cobertas de pêlo. Há mesmo quem defenda que a variante depilada constitui uma subespécie - Crambe hispanica subsp. glabrata -, mas essa autonomização não foi validada pela equipa da Flora Ibérica.

A couve-bastarda, que pode atingir 1,2 m de altura, apresenta uma ramificação esparsa, com ramos longos e delgados. As flores são brancas e pequeninas, com cerca de 7 mm de diâmetro, mas o que a planta tem de mais distintivo é o fruto esférico, de 4 ou 5 mm, assente num cilindro estreito rematado por um anel.

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