A flor do segredo
Os britânicos chamam-lhe hound's tongue, em alusão ao formato das folhas, tradução literal de cynoglossum (do grego kyon, cão, e glossa, língua). Reparando nas flores, o Portugal Botânico de A a Z traduz o epíteto clandestinum (escondido) por um prosaico cinoglossa-de-flor-fechada. Convenhamos que é estranho uma flor ter o hábito de nunca se abrir. Excessiva timidez é sinal de alma dividida, ou necessidade de esconder a alegria. Neste caso, são os bens que ela põe a salvo das formigas e de outros bichinhos gulosos que, ao contrário das abelhas, lhe roubam o néctar mas não colaboram na polinização. Cada fruto que esta estratégia proteccionista lhe assegura é formado por quatro «nozes» achatadas e verdes, cobertas com espinhos aduncos como ganchos; mas o que se vê na foto não passa ainda de um embrião.
Esta herbácea é do sul da Península Ibérica. Há, felizmente, regiões com natureza mais mansa onde outras cinoglossas franqueiam as suas flores (como o C. cheirifolium L. ou o C. creticum Miller, do sudoeste da área mediterrânica), permitindo verificar que têm 5 pétalas reviradas de cores janotas (azul, violeta, roxo, púrpura, carmesim) unidas em tubo cuja entrada é, contudo, dificultada por brácteas alteradas em abas. A penugem farta destas plantas — umas 60 espécies da Europa, Ásia e África — é um dos seus traços de família.
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