O cheiro que passa
Das quinze espécies do género, quase todas europeias (a excepção é chinesa) e de grande reputação em jardinagem, foi este o único heleboro que se instalou em Portugal. Porém, a julgar pelos nomes que lhe atribuímos, como erva-besteira ou heleboro-fétido, não o tratamos com muito carinho. Ainda que a acusação de malcheiroso já venha lavrada no nome científico, ela é um bocado exagerada, e tal ónus injusto não deve servir de pretexto ao ostracismo. De facto, o mau cheiro só se manifesta quando as folhas são esmagadas, e não há nenhuma compulsão que nos obrigue a triturar este heleboro ou qualquer outra planta. Que ele responda à agressão exalando um fedor ofensivo é um acto de legítima defesa. Há animais que fazem o mesmo. De resto, as flores — que são verdes, têm muitos estames de curta duração, e aparecem de Janeiro a Abril — até soltam um perfume agradável.
Se o heleboro não deve ser esmagado, dita o bom senso que muito menos deverá ser comido: trata-se de uma planta que, mesmo quando seca, é perigosamente tóxica tanto para o homem como para o gado. Em tempos idos terá mesmo sido usado como vermífugo e como repelente de piolhos.
O heleboro prefere terrenos calcários, pedregosos, a meia sombra ou dominados por matos rasteiros. É comum encontrá-lo na Serra dos Candeeiros, embora nunca lá chegue a reunir populações densas. Planta rizomatosa, a sua parte aérea, que atinge um máximo de 80 cm de altura mas pode alargar-se até um metro, renova-se a cada par de anos.
Na foto em cima o heleboro exibe claramente dois tons de verde. O mais escuro é o das folhas, que são compostas, cada uma delas formada por sete a onze folíolos lanceolados e de margens dentadas. O verde mais claro, na parte superior da planta, deve-se às brácteas na base dos pedúnculos florais e às corolas das flores. E deve-se também aos frutos pálidos, de pontas aguçadas, que, mesmo em meados de Fevereiro, já haviam sido produzidos em grande quantidade.
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