Sozinha no bosque
Esta é mais uma daquelas plantas solitárias que encontramos por vezes em Valongo. Não é que recuse a companhia das suas semelhantes: elas é que debandaram em massa e a deixaram sozinha no bosque. E que assustador é este bosque mesmo não sendo frequentado por lobos. Porque esta sargacinha não foi educada para viver cercada de eucaliptos, nem para suportar os veículos atroadores que constantemente ameaçam atropelá-la.
Tudo somado, Valongo guarda um número apreciável de preciosidades botânicas. O que perturba é a precaridade da vegetação destas serras: é tudo escasso, frágil e ameaçado. Talvez a classificação, a concretizar-se em breve, das Serras de Santa Justa e Pias como paisagem protegida de âmbito local permita recompor alguns ecossistemas e, sobretudo, controlar os «desportos» motorizados. Se os estragos da eucaliptização se revelarem irreversíveis, que pelo menos se proteja eficazmente o que ainda resta.
Os arbustos do género Halimium são muito semelhantes aos Cistus, mas a maioria das espécies nele incluídas (como estas duas) dão flores amarelas, cor que os Cistus estão probidos de ostentar. Quando as flores são brancas é que o caso se complica. O Halimium umbellatum, que floresce de Março a Maio, é um sósia quase perfeito do Cistus clusii, dele se distinguindo essencialmente pelos frutos. Mas não precisamos de nos preocupar com minudências dessas, pois o Cistus clusii, embora presente em Espanha, não é espontâneo em Portugal. Quanto ao Halimium umbellatum, trata-se de um arbusto de não mais que 70 cm de altura, penugento, por vezes viscoso; as suas folhas exibem forma linear, são alvacentas na face inferior, e têm margens recurvadas para dentro. Dá-se bem em pinhais, e gosta de terrenos silicosos como os que há na serra de Valongo. Além de morar em Portugal, está presente em países do Mediterrâneo ocidental como a Espanha, França, Grécia, Marrocos e Argélia.
2 comentários :
Sozinha no bosque
Com meus pensamentos,
Calei as saudades,
Fiz trégua a tormentos.
Olhei para a Lua,
Que as sombras rasgava,
Nas trémulas águas
Seus raios soltava.
N'aquela torrente
Que vai despedida,
Encontro assustada
A imagem da vida.
Do peito, em que as dores
Já iam cessar,
Revoa a tristeza
E torno a penar.
Marquesa de Alorna
Não sei se o título do post foi inspirado neste belo poema da Marquesa de Alorna... a mim trouxe-mo imediatamente à memória. Aqui fica a acompanhar uma das mais bonitas flores dos nossos campos. Nem tudo se perdeu ainda neste país.
Obrigado pelo precioso comentário. De facto não conhecia esse bonito poema (bom para se ler em voz alta), e o título foi apenas uma coincidência. Nós até gostamos aqui no blogue de plagiar e às vezes distorcer títulos conhecidos.
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