16/01/2005
Subscrever:
Enviar feedback
(
Atom
)
Foto: pva 0501 - Acacia dealbata
Todos os anos na mesma altura
a montanha veste o mesmo vestido amarelo
para ver se ainda lhe serve na cintura.
Jorge Sousa Braga, Fogo sobre fogo (1998)
Publicada por Maria Carvalho em 16.1.05
Etiquetas: Fabaceae , Jorge Sousa Braga , poesia
5 comentários :
Claro que gosto do poema do Jorge. Mas custa-me que neste belíssimo sítio sobre as árvores as mimosas apareçam assim, sem ressalvas, sem adversativas. Talvez poucas espécies, no nosso país, sejam tão preocupantes como as mimosas - a dealbata, a longifolia, a melanoxilon... No Gerês nem nos próximos cem anos a desinçam... Em Monchique já é uma praga terrível... Etc. por aí fora. Por favor: as acácias, não!
(Esperando por mais comentários)aproveito para relembrar que já falámos veementemente contra as acácias invasoras (e voltaremos sempre a falar).
Ficam aqui a data das entradas: 25 de Julho - Fogo em Monchique; 27 de Setembro - Árvores do Fontelo; 28 de Setembro - Acácias invasoras.
Nesta último post faz-se a ligação para o site da responsabilidade de uma equipa de investigação ligada ao Departamento de Botânica da Universidade de Coimbra, sobre o projecto "INVADER -INVasion AnD Ecosystem Restoration" (Avaliação do potencial de recuperação de ecossistemas invadidos por Acacia e metodologias para controlar a invasão).
Aliás o início da época da floração das acácias é o momento oportuno para falar desta nefasta espécie invasora tão "bonitinha" e "mimosa".
A transcrição do poema não supõe qualquer apreciação sobre a árvore em si. O seu comentário alertará os poucos dos nossos leitores que desconhecem a perigosidade dessa praga para a floresta portuguesa - e de que até já aqui falámos ocasionalmente. De facto as acácias deveriam ser erradicadas do nosso território, mesmo que tal tarefa se afigure quase impossível. Mas não se poderá, a propósito de um poema, lembrar que, apesar de justamente proscrita, esta árvore também suscitou interese dos nossos escritores e poetas? O próprio Aquilino Ribeiro, na "Geografia Sentimental", lhe tece elogios algo ingénuos (desculpáveis na época - 1950 - em que escrevia)
Desculpem o tom do meu comentário. Claro que vocês já falaram das acácias, claro que é legítimo trazer aqui um belíssimo poema do Jorge Sousa Braga sobre as acácias. (Quanto ao Aquilino: certo; mas das páginas do Aquilino eu recordo-me é dum carvalho!) Um abraço.
Enquanto não vão para um post e aproveitando a "deixa" do comentário anterior não resisto a transcrever mais uns versos (estes dos anos 40 e de José Régio, da sua tão bela Toada de Portalegre (in Fado,1941):
«(...)
Lá num craveiro que eu tinha,
Onde uma cepa cansada
Mal dava cravos sem vida,
Poisou qualquer sementinha
Que o vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda,
Achara no ar perdida,
Errando entre terra e céus...,
E, louvado seja Deus!,
Eis que uma folha miudinha
Rompeu, cresceu, recortada,
Furando a cepa cansada
Que dava cravos sem vida
Naquela
Bela
Varanda
Daquela
Minha
Janela
Da tal casa tosca e bela
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela...
Como é que o vento soão
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
Dói nos peitos sufocados,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão,
Me trouxe a mim que, dizia,
Em Portalegre sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for,
Me trouxe a mim essa esmola,
Esse pedido de paz
Dum Deus que fere... e consola
Com o próprio mal que faz?
(...)
Lá no craveiro que eu tinha,
Onde uma cepa cansada
Mal dava cravos sem vida,
Nasceu essa acaciazinha
Que depois foi transplantada
E cresceu, dom do meu Deus!,
Aos pés lá da estranha casa
Do largo do cemitério,
Frente aos ciprestes que em frente
Mostram os céus,
Como dedos apontados
De gigantes enterrados...
(...)»
Enviar um comentário