11/03/2010

Chícharo-de-folhas-grandes

Lathyrus latifolius L.
A ervilha, o feijão e o tremoço são sementes suficientemente distintas, em formato e sabor, para a natureza lhes juntar uma média igualmente nutritiva: o chícharo (Lathyrus sativus L.). É um grão de paladar suave que combina bem, no capítulo gastronómico, com quase tudo, doce ou salgado. Já foi alimento de pobre, bicho e gente, quando estes se sustentavam das plantas de cultivo fácil — e o chícharo prefere, sem regatear, terrenos calcários, é muito resistente a secas e não precisa de amanho diário. Com tal estigma, passados os anos de guerra e de fome, foi arredado da mesa e da memória. Voltou aprimorado, virtuoso mas ainda barato, como ingrediente de um vasto manancial de receitas de gourmet e com honra de festival nas Terras de Sicó.

O chícharo (do latim ciceru; a palatalização inicial e no interior do vocábulo deve-se a influência moçárabe) é uma leguminosa anual, de origem desconhecida mas naturalizada na região mediterrânica e aqui tão bem adaptada que chega a ser infestante. Tem caules ligeiramente alados e folhas pinadas com dois folíolos de 3 a 9 cm. As flores são solitárias e nascem azuis no Verão, murchando brancas com delicada venação roxa.

A herbácea da foto, nativa do sul da Europa, é prima do chícharo mas é perene e tem uso ornamental. É uma trepadeira vigorosa com caules de asas largas (vêem-se no topo superior direito da primeira foto) onde alternam folhas pinadas, de dois folíolos oblongos e grandes (mais de 10 cm), que terminam com uma gavinha e são alindadas na base por uma estípula. A inflorescência axilar reúne, do Verão ao Outono, cerca de vinte flores de cinco sépalas e cinco pétalas acuminadas, desiguais, de cor rosa-aveludado: uma superior como uma vela à banda, duas laterais e uma quilha mosqueada de branco que protege 10 estames, o estilete e o ovário. A polinização está a cargo de abelhas; o fruto é uma vagem.

O nome génerico Lathyrus etiqueta cerca de 160 espécies da Europa, do oeste da Ásia, da África oriental e da América do Sul, cabendo ao nosso continente umas 50. Nestes tempos de regalias económicas, de uma saciedade que beira o fastio, a espécie que recebe mais atenção dos horticultores, por ser perfumada, é a ervilha-de-cheiro (L. odoratus L.), de que se conhecem numerosos cultivares de jardim, em quase todas as cores (excepto amarelo), alguns bicolores, sarapintados ou de pétalas onduladas como folhos de cetim.

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