O pinhal antes do rei
O verdadeiro Pinhal de Leiria, ou Pinhal do Rei, fica, não em Leiria, mas no concelho da Marinha Grande. São uns 110 km^2 (ou 11000 hectares) de uma vegetação que só na aparência é monótona. Entre a estrada atlântica e o mar predominam os arbustos rasteiros: tojo, camarinhas, sabinas e sargaços fazem companhia às perigosas acácias (A. longifolia) e aos famosos pinheiros serpentes. À medida que caminhamos para a costa, vai surgindo a típica vegetação dunar, dela se destacando as armérias (Armeria welwitschii) pela beleza e os chorões (Carpobrotus edulis) pela nocividade. Para o interior, a leste da estrada atlântica, desenvolve-se o pinhal propriamente dito, em que um rico sub-bosque de adernos (Phillyrea angustifolia), urzes e samoucos (Myrica faya) se deixa engalanar por trepadeiras como a Rubia peregrina e a salsaparrilha (Smilax aspera). E há ainda os musgos, os líquenes e toda a vegetação herbácea.
Isto, porém, é só uma ténue amostra dos tesouros que se encontram naquela ínfima parcela das matas nacionais que é ocupada pelo pinhal manso. O Pinhal do Rei encontra-se dividido por aceiros e arrifes numa malha de rectângulos paralelos à linha costeira, cada um deles com cerca de 400 metros de largura por 880 metros de comprimento. Haverá uns 310 destes rectângulos. O pinhal manso, que fica situado uns 5 km a nordeste de São Pedro de Moel, estende-se por dois ou três rectângulos contíguos, mas a sua área não deverá exceder a de um único rectângulo. Dito de outro modo, o pinhal manso perfaz 0,32% do Pinhal do Rei: 35,2 hectares de um total de 11000.
O que este pinhal manso tem de especial é ser anterior à grande plantação de pinheiros-bravos que terá começado no tempo de D. Dinis. Por nos dar uma amostra de como era, em tempos imemoriais, a paisagem destes lugares, o pinhal manso é uma relíquia única; e, sendo embora pequeno, está tão pouco adulterado que talvez não haja, em Portugal, qualquer outro bosque natural de pinheiros-mansos que se lhe possa comparar.
A beleza deste conjunto de árvores forma um quadro digno de se ver, e o bosque seria uma preciosidade mesmo que só tivesse pinheiros-mansos. Mas a eles vieram juntar-se muitos arbustos: os mesmo que acima listámos e ainda carrascos (Quercus coccifera), folhados (Viburnum tinus) e medronheiros (Arbutus unedo). E este ecossistema riquíssimo, em plena maturidade, é também abrigo para numerosas aves de rapina.
Ainda decorrerá a eleição das sete maravilhas naturais de Portugal? E serão mesmo sete? Seja lá como for, deixamos aqui registado que este pinhal manso é o nosso candidato e que é dele o nosso voto.
1 comentário :
Mais um local onde muito brinquei, dado que, como a minha mãe era natural da Batalha, o tempo de praia era passado por ali. S.Pedro de Moel, Parades, Vieira, Praia do Pedrogão, são lugares e cheiros que conservo na memória e no coração. Quantos picnics fizemos no pinhal do rei...
Obrigado por me trazerem imagens de um local único e muito belo.
Luz
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