Mostarda em barda
Brassica tournefortii Gouan.
Era sabido que não tardaria a vingança das couves e dos rabanetes. Um acto de contrição só me fica bem: eu já desdenhei das couves. Infringindo a liberdade que cada um tem de ser rei (ou rainha) em sua casa, opinei por escrito que um vizinho meu, em vez de couves, deveria ter na varanda alguma flor mais requintada. Desataram então as couves a perseguir-me em tudo quanto é jardim, fingindo-se, com indiscutível brio, de plantas ornamentais. É que a Brassica oleraceae L., que comparece à nossa mesa sob os mais diversos disfarces (penca, repolho, couves-de-Bruxelas, bróculos, couve-flor), também dispõe de uma versão anã, com folhagem em tons de rosa, amarelo e vermelho, própria para enfeitar canteiros. Tal disfarce, porém, não engana os coelhos que pululam nos jardins do Palácio de Cristal: couve, segundo eles, é para comer com a boca e não com a vista. Nos outros lugares da cidade onde não há desses vorazes roedores, as couves ornamentais têm vida mais tranquila. E há até um funcionário especializado em cortar à tesoura as hastes florais, poda inocente que visa evitar que a planta revele ao mundo o seu carácter de hortaliça.
Antes de chegarem às hortas — e, mais recentemente, aos jardins —, as couves foram simples plantas espontâneas, brotando em terrenos pedregosos ou ruderais desde a Europa mediterrânica até à Ásia temperada. Das mais de 30 espécies do género Brassica, 21 são europeias e 10 delas ocorrem na Península Ibérica. Mesmo das que foram domesticadas (como a nabiça — Brassica napus L.) encontram-se ainda populações silvestres. E algumas são invasoras fora do seu território de origem. Um exemplo é a mostarda africana, Brassica tournefortii, que pelo seu comportamento reprovável se tornou problemática nos desertos da Califórnia e do México. É que ela, habitante dos lugares mais áridos do norte de África e do Médio Oriente (e também de alguns países do sul da Europa, incluindo Portugal e Espanha), já sabia bem como sobreviver nesses habitats inóspitos. O segredo está em aproveitar qualquer vestígio de humidade para germinar antes da concorrência.
Mostarda é o nome que se dá ao condimento preparado com as sementes desta e de outras plantas semelhantes. As mostardas mais suaves provêm da Sinapis alba ou da Sinapis hirta; as mais pungentes obtêm-se de plantas como a Brassica juncea, a Brassica nigra ou a Brassica tournefortii.
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