16/03/2010

Erva de chupar alecrim

Orobanche latisquama (F.W. Schultz) Batt.
Se não fosse a necessidade de propagar a espécie (essa sujeição ao futuro que está inscrita no código genético de todos os seres vivos), esta planta nunca seria vista à luz do sol. Porque luz do sol é justamente uma coisa que não lhe serve para nada. A planta não tem clorofila, fotossíntese é coisa que nunca aprendeu a fazer, e por isso não tem como produzir o seu próprio alimento. Para sobreviver, finca-se nas raízes de alguma outra planta e desata a chupá-las. São as hastes florais que lhe traem a presença: durante três ou quatro meses em cada ano, a partir do final de Março, ei-las a espreitar uns 20 a 60 centímetros acima do solo, aguardando que as abelhas façam o seu serviço. As minúsculas sementes podem ficar dormentes durante muitos anos, germinando só quando alguma potencial hospedeira se põe a jeito. Fica assim assegurada a continuidade da espécie e desse modo parasita de viver.

Como todas as do género Orobanche, a planta não tem pinga de verde, mas não é inteiramente correcto dizer que não tem folhas. Na base das flores há umas membranas de cor leitosa com o bordo castanho: são brácteas, ou folhas modificadas. É a elas que se refere o epíteto latisquama, que sublinha o facto de nesta espécie tais brácteas serem muito largas.

Ser parasita não obriga uma planta a abdicar de gostos refinados: as ervas-toiras (nome vernáculo para o género Orobanche) não aceitam tudo quanto lhes caia no prato. A O. hederae, por exemplo, recusa-se a vampirizar outra coisa que não seja a hera. A O. latisquama não será um caso tão extremo de especialização — consta que também se alimenta de plantas do género Cistus —, mas na Serra dos Candeeiros parece associar-se exclusivamente ao alecrim (Rosmarinus officinalis).

Haverá umas 28 espécies de Orobanche na Península Ibérica, 16 delas presentes em Portugal. Tirando uma saltada às ilhas Baleares, a O. latisquama tem uma existência confinada aos territórios continentais de Portugal e Espanha.

5 comentários :

RENATA RZ disse...

Paulo,

nunca vi esta espécie aqui no Brasil.
Obrigada por me apresentá-la!

Saudações verdes!

Anónimo disse...

Vivo no concelho da Batalha e no meu quintal é habitual aparecer esta planta mas apenas quando no terreno semeamos favas. ou pelo menos é o que nos parece pois nesse terreno só existe uma ameixoeira pequena.
Este ano vou ficar mais atenta.

Anónimo disse...

A responsabilidade da invasão das favas deve ser de uma parente próxima, Orobanche crenata. É uma planta parasita que pode causar estragos consideráveis nas culturas de algumas leguminosas como as favas ou as ervilhas.

António disse...

Perguntava ontem pelos vistos sem sucesso (erro de informática) se, não havendo clorofila, pode esta espécie ser classificada como planta. Não faz parte da definição a autotroficidade?

Paulo Araújo disse...

É uma planta, sim. Há até famílias de plantas que incluem plantas "normais", com clorofila, e plantas sem clorofila. (Exemplos: Cuscuta na família Convolvulaceae; e há várias orquídeas sem clorofila.) É verdade que hoje em dia se conhecem organismos cuja pertença a um dos tradicionais "reinos" (animal ou vegetal) é problemática, mas no caso da Orobanche não há qualquer dúvida. Mas talvez alguém com conhecimentos de botânica lhe possa dar uma explicação menos mal amanhada do que a minha.