10/03/2010

Recado da Primavera


Primula veris L. [fotografada em Inglaterra]

Primaveras é como por cá chamamos às plantas do género Primula, de que já aqui mostrámos a única representante na flora espontânea portuguesa. De resto, prímulas temos muitas, e muito coloridas, nos canteiros de flores sazonais que ainda não foram abolidos em favor das calçadas de granito. Plantas de floração precoce, são elas que asseguram os serviços mínimos da jardinagem pública durante o Inverno. Mas essas produções viveiristas, por muito que nos encantem, não nos compensam da tristeza de sermos o único país da Europa onde a Primula veris (cowslip em inglês) não quis viver. Afinal os nossos problemas não se reduzem ao PIB e ao défice orçamental, pois também no que às prímulas diz respeito ocupamos a cauda do pelotão europeu.

Também em latim existem os falsos amigos que fazem tropeçar quem se inicia numa língua estrangeira. Assim, o epíteto veris não nos informa de que esta é a única prímula verdadeira, mas sim de que floresce na Primavera. Sirva de consolação a quem pratique tradução fonética e outras tropelias linguísticas que os franceses, neste caso, meteram o pé na argola: primevère vraie é um dos nomes que eles dão a esta planta (o outro é coucou).

A Primula veris - que é a flor-símbolo de três condados ingleses (Northamptonshire, Surrey e Worcestershire) - partilha com a Primula vulgaris um gosto por bosques e prados, embora tenha tendência a escolher habitats mais soalheiros. Nos locais onde ocorrem ambas as espécies, é comum formar-se o híbrido Primula veris X vulgaris, com flores de um amarelo pálido que é um meio-termo entre o tom vivo da P. veris e o desbotado da P. vulgaris, agrupadas em umbelas no topo de hastes mais curtas do que as da P. veris (estas atingem os 25 cm de altura).

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