04/03/2010

Beringela na horta e na panela


Solanum melongena L.

A primeira ilustração de uma beringela em obra europeia é do alemão Leonhart Fuchs (1501-1566) no seu único livro publicado sobre plantas, De historia stirpium (Basileia, 1542). Chamou-lhe então malla insana (algo como maçã louca) por não a conseguir encaixar em nenhuma descrição botânica clássica, fosse ela grega, romana ou árabe (tivesse ele procurado em textos chineses e teria encontrado). Na legenda que acompanha a ilustração, Fuchs informa que a beringela era então consumida cozinhada em azeite, sal e pimenta, ou conservada em salmoura; em sua opinião, tratava-se de comida para gastrónomos, ou para gente disposta a provar qualquer iguaria.

A beringela é uma das poucas espécies do género Solanum (erva-moura em latim) que têm uso alimentar e não vieram da América do Sul. É nativa da Índia (onde se chama brinjal), Bangladesh, Paquistão e Sri Lanka. Deverá ter entrado no Ocidente pela região mediterrânica, trazida em cesto árabe, a julgar pelas inúmeras designações árabes e africanas com que lhe enriqueceram o BI. Hoje a China é o maior produtor, com a Índia em segundo lugar.

É uma herbácea perene de caule espinhoso e folhas longas (até 20 cm) com margens lobadas de forma irregular. Produz flores brancas ou violáceas, procuradas por abelhas; o fruto é uma baga roxa, pequenina (3 cm de diâmetro) nas variedades silvestres, muito maior nas cultivadas (conhecida no Brasil como peito-de-moça), e rica em iodo. Alguns cultivares produzem frutos de casca amarela ou branca (o que lhe trouxe mais um nome comum, eggplant), ou ainda roxa listrada de branco. As sementes, de textura mole, são azedas pois contêm alcalóides da família da nicotina (por isso, a polpa da beringela escurece em breves minutos quando entra em contacto com o ar).

Beringela deriva do espanhol berenjena (sec. XIV-XV) e este do árabe badindjana, que por sua vez tem raiz no persa badndjan.

Para fazer jus ao título, jantámos beringela. Desconfio, porém, que isto de comer posts ainda vai dar mau resultado.

5 comentários :

Gi disse...

:-D
Não gosto muito de beringelas, srá por não ser fumadora? ;-)

Maria Carvalho disse...

Poderíamos experimentar esta receita para verificar se, como dizem, converte os mais cépticos.

Paulo disse...

Gi,
Eu fumo e também não sou grande fã da beringela, a menos que ma apresentem mascarada de qualquer outra coisa, como na receita das almôndegas do Gintoino, o que, já em tempo de Quaresma, não é aconselhável.

Gi disse...

Maria, têm um aspecto super apetitoso, talvez me renda se conseguir que alguém as cozinhe para eu provar (não tenho nenhum orgulho em ser má cozinheira mas é um facto da vida).
Paulo, na Quaresma é que se deve comer vegetariano, não é? ;-)

OLima disse...

Só lhe fez bem ao colesterol :)
Octávio Lima